domingo, 3 de maio de 2020

Rosa


E naquela noite de sábado vieram me dizer que você tinha morrido... E aí a minha pergunta pra médica que foi: “qual é o procedimento agora?” seria na verdade pra você. E as tantas coisas que estavam passando na minha cabeça e eu precisava falar também eram pra você.

Mas aí a sua casa estava vazia, e o seu quarto também... Fui procurar uma roupa e não sabia qual você gostaria que eu escolhesse. A única coisa que eu lembrava era que você queria uma meia, igual as que você pediu pra ficar quentinha na clínica. Foram essas as suas palavras junto com “você vem me buscar na terça, né?” que eu ouvi pela última vez.

Não fazia mais diferença a meia que eu tinha escolhido, nem a bolacha champagne que você adorava, nem as discussões com os arrependimentos. O que sobrou não era nada, e com o nada não  há muito o que fazer.

Ainda no sábado anterior, na nossa conversa mais longa de muitos anos, depois de comer o pudim de caixinha que você fez pra me esperar, conversamos sobre a alegria de se ir depois de um dever cumprido na Terra. E que por isso não se chora nessas horas.

Mas hoje não deu, Mama. Não deu pra passar esse dia longo de sol, sem nenhuma nuvem, sem pensar nas coisas que aconteceram nesses anos todos. Eu juro que queria lembrar dos bons momentos pra que eu tivesse uma saudade menos triste que agora, mas hoje não deu. Acho que em breve eles voltarão.

Pelo menos lembro do seu apoio incondicional, lembro de reclamar de coisas muito ruins que já foram, e da vontade de te telefonar pra contar como tudo está melhor. Mas seu telefone está aqui em casa e você não.

Seus documentos vieram pra cá. Suas panelas e suas formas, também. Aquelas mesmas da comida tão deliciosa que você fazia. Elas vão se deteriorar. O cheiro da comida, o sorriso no rosto na minha chegada e a cara brava das brigas, esses vão ficar (jamais vou esquecer da famosa frase: “a gente briga, mas a gente se ama né?”).

Sim, Dona Rosa, a gente se ama. E já que sua última mensagem foi um “te amo, Deus te abençoe”, junto de uma figurinha de uma rosa, vai uma chuva de rosas pra você, Dona Rosa.

Te amo