sábado, 7 de setembro de 2019

Quando desistir é a melhor opção

Desista de desistir



Hoje eu estava ouvindo, por coincidência, uma música chamada “Don’t give up”, do Peter Gabriel, onde, entre outras frases, a música fala que fomos ensinados a lutar e não desistir, porque existe um lugar a que pertencemos, ou que nos preocupamos demais, pois tudo vai ficar tudo bem.

E procurando algum texto sobre desistência, só achei textos em que “não podemos desistir”. E porque não se é algo espetacular?

Desistir não é um comando de gente fraca, sem força de vontade, que não se posiciona. Eu batalhava, insistia, fazia dar certo, e as coisas simplesmente não aconteciam. Investi em relacionamentos abusivos, persisti em tentar mudar pessoas, comportamentos, persisti no trabalho que não me dava nenhum tesão. Fui arrogante. Fui insistente.

E não, desistir não é a pior opção. É a personificação de que você pode largar, pode abandonar, pode se livrar de condutas inadequadas, de pensamentos estranhos, de frases e atitudes que te machucam. É possível desistir e recomeçar.

É possível desistir de ouvir um “entendi” como resposta, quando se diz “eu te amo” pra alguém. É possível desistir de que seu sonho de estar com alguém pra sempre vai durar quando se ouve “não quero dormir com você esse fim de semana”. É possível desistir e abrir mão de uma atitude em que se rejeita aquele que te chama de companheiro, pra que a gente se auto conheça, em primeiro lugar.

E se está a fim de desistir, desista. Com fé. Desista das pessoas que não te querem, das famílias chatas, dos padrões e dos carros da moda, das amizades e dos colegas falsos. Desista de ser aquele você que hoje você já não é nem sombra.

Não precisamos ser fortes até a morte, não precisamos lutar até cair, não precisamos tentar ficar calmos, pois em algum momento as coisas se ajeitam. Podemos ser fracos, não ficarmos calmos e desistir (só um pouquinho) de nós. Pra recomeçarmos muito mais leves.


Sombra do que costumava ser



Ele não queria ter ficado triste. Sabia que, se ele chorasse, seu sentimento de culpa iria adentrar àquela casa e ia ser difícil sair.

Estava disposto a ficar acordado até o dia seguinte só pra se lembrar. À luz acesa, pensou no filme que estava passando, e que já havia assistido com ela. Adoravam filmes ruins na madrugada. Também teve vontade de chorar, mas se segurou. Dormiu segurando o controle remoto nas mãos.

Naquela manhã levantou e nem fez o café, pois sabia que ficaria aguado como sua vida atual. Queria mesmo era falar pra ela sobre aquilo que viveu, de suas músicas favoritas, e de tudo que ele agora amava. Seria capaz de passar aquela tarde chuvosa contando sobre cada banda que ele adorava. Sabia que suas histórias iam fazê-la rir, e ele amava aquele sorriso.

Queria ter falado pra ela passar o fim de semana, e que ela tivesse aceitado. Acordariam juntos, iriam ao parque, receberiam amigos queridos para o almoço, conversariam de tudo e fariam com que o dia fosse inesquecível. E no fim da noite, de maneira mais inesperada, teria pedido sua mão em casamento.

Queria pedir pra ela cantar antes de dormir. Apenas ficou imaginando qual música ela escolheria pra ele. E resolveu ficar ouvindo-a, sem parar.

Sentia que aqueles olhos grandes perturbavam-lhe, às vezes. Sua pele macia era como um novelo de lã, daqueles bem felpudos com que os gatos ficam brincando. E o cheiro? Ele amava sentir aquele perfume.

Teriam passado a vida juntos naquela casa, pra sempre. E seriam muito felizes.

Se ao menos por um único dia ela tivesse estado lá.