domingo, 30 de março de 2014

O hungarês



Há quase 2 anos comecei a me interessar mais pela cultura e  em conhecer os membros da comunidade da terra de meus antepassados. E nessa busca pela origem dos ascendentes descobri algumas agradáveis e sinceras pessoas que tornaram-se parte importante de meu dia a dia.

Essa história começa com a busca dos documentos de meu avô, para o processo de obtenção de minha cidadania húngara. No processo de levantamento dos dados (veja a história sobre minha cidadania húngara aqui), tivemos um grande aliado. O Gábor (atenção: não ouse chamá-lo de Garbo, Gaburo, Gláuber ou Jaber...) nos auxiliou prontamente em tudo, foi muito dedicado e assíduo no andamento de toda a documentação.

Essas idas e vindas ao consulado tornaram-se frequentes e nossos almoços, antes dedicados exclusivamente aos assuntos da cidadania, foram cedendo espaço a assuntos diversos. Conclusão: era o início de uma grande amizade.

Lembre-se amigo leitor: quando você ganha um amigo sela um compromisso sincero em sua vida. E com ele virão todas as virtudes e aquelas "anormalidades" que só quem é próximo de uma pessoa conhece. Isso inclui as críticas sinceras e construtivas, as piadas ruins e as sonoras respostas "NÃO", que na maioria das vezes significam um sim, porém tem sua importância real quando é resposta a algo sério (não citarei a parte de emprestar o paletó ou abrir a geladeira alheia).

A parte boa dessa história toda é que ganhei uma espécie de irmão mais velho (não muito velho, viu Gábor!), que costuma ser sincero sobre as opiniões de meus atos, é um leitor assíduo e crítico de meus textos, presta atenção em minhas atitudes e erros e os aponta sem pudores, pois só quem se importa nos dirá em quais situações devemos melhorar.

Atualmente essa sinceridade tem me tornado uma pessoa mais atenta e forte. E de certa forma esse cuidado me faz pensar mais naquilo que realmente é importante, e em qual direção tomar (segundo ele, aquela que nos fizer feliz).

E nesse ritmo a vida tem voltado para o eixo depois de um período obscuro e triste. Aprendi com esse húngaro-brasileiro que sempre as coisas acontecem por um motivo, e antes que se tome qualquer atitude devemos olhar o que aconteceu no passado, e o que isso pode acarretar no futuro.

Sobre a cultura húngara e o motivo inicial de nosso contato? Descobri que o país é um dos mais lindos e mais interessantes do mundo, que o povo tem muito orgulho de seus feitos históricos e atuais, e que em setembro há uma meia maratona das mais importantes do mundo (estarei lá...).

Grande amigo, tenha certeza que essa nossa convivência é mais do que uma nota 9 em um aranygaluska (doce típico húngaro) que estava com pouco sal, mais do que um alento em um momento de tristeza, e mais do que um conselho na recuperação de uma burrada feita na vida: é uma nota 10 quando vejo que você não mede esforços para que eu esteja bem sempre, e uma nota 100 para uma grande e sincera amizade.

Köszönöm!*

*Köszönöm é a tradução em húngaro para obrigado.



terça-feira, 4 de março de 2014

Smile


O alarme tocou. O horário era diferente daquele que ele estava acostumado a acordar. O lugar era outro, a noite tinha sido terrível. Em seu pensamento apenas uma certeza: ao abrir os olhos não saberia qual seria seu destino, nem o que enfrentaria naquele dia. Sua vontade era apenas de tornar-se invisível, quando precisasse.

Seu grande medo era não encontrar mais aquilo que deveria. Sabia que ia acontecer. As lágrimas iminentes, o medo e a tristeza enlatados, agora tomavam forma e faziam-se presentes como o sol que insistia em incomodar seu despertar, pela fresta da cortina.

Na falta de esperança arriscou abrir os olhos. Lembrou-se do sorriso mais lindo que já tinha visto. Procurou-o em uma foto e encontrou. Um alento. Instantaneamente sentia o alívio da lembrança dos momentos mais felizes que já passara: um dia de chuva no rosto, um prato de arroz fresco, um beijo de reencontro, o acordar de um sonho ruim.

A ausência de chão já não era tão presente. Percebeu que iria sobreviver. Notou que a vida é e sempre será boa, apesar de tudo, que os momentos de dor irão transformar-se em saudades, que o arrependimento faz crescer, e que a vida passa tão rápido, quase como o açúcar que se dissolve em um copo d’água.

Pensou nos domingos de outono que o deixavam tão feliz, e que vale sempre a pena continuar tentando, que é possível sorrir mesmo que o momento não seja bom, e que substituir a culpa pelo amor e um gesto rude por um carinho sempre será melhor, mesmo que não haja retribuição.

Descobriu que não precisava mais olhar pra trás. A partir de agora estaria menos cego, mais cansado, menos poderoso. Em compensação sentia-se mais amparado. Não iria chorar, nem gritar, nem falhar. Apenas cuidaria para que as pessoas certas, de quem ama, estivessem ao seu redor.

A vida seguiu.  E teve certeza de quem mudava seu dia quando leu a resposta da mensagem daquela manhã:

- Temos um sorriso pra hoje?
- Sim, sempre!