terça-feira, 8 de outubro de 2013

Passado


O próprio título nos fornece a mais didática das explicações. E ele não vai voltar. É como o tempo, as pessoas, a vida, que vão sempre andar pra frente e nos afastar dele cada vez mais.

Tentar viver o passado, além de ser impossível, nos apega a coisas que já não temos mais. Escorar-se em lembranças é o caminho para o apego e para o esquecimento do que se vive e se viverá.

Infelizmente nem sempre é tão fácil. Talvez o pior de tudo seja livrar-se dos fantasmas. E eles sempre voltarão, enquanto nos perguntarmos “por que”, “quando” ou “onde”, ou ainda se guardarmos todas as lembranças e momentos que um dia já existiram. Remoer o pensamento das coisas que nos fizeram bem, das lembranças e daquilo que está guardado é o combustível que nos levará de volta ao antigo.

Isso não serve necessariamente para uma lembrança ruim, ou algo que nos magoou. Mesmo o saudosismo de bons acontecimentos nos privam de viver aquilo que temos pela frente. Ser eternamente criança, estar integralmente apegado aos pais ou parentes, ou ainda querer voltar em um tempo em que se era mais feliz não nos recolocarão de volta nesses momentos. O melhor é simplesmente deixar ir.

Encerrar etapas. Talvez essa seja a melhor coisa do imprevisível relógio chamado vida. Desmanchar um relacionamento, esquecer alguém por quem se esteve perdidamente apaixonado, trocar de emprego, deixar de ver uma pessoa que você um dia chamou de melhor amigo são fases que terminam e não necessariamente significam uma derrota porque ficaram para trás. Apenas querem dizer que foram boas durante aqueles momentos em que ocorreram, e talvez tenham terminado porque o ciclo havia se tornado completo.

Essa mesma vida que nos apega nos fornece essa possibilidade de irmos adiante. Isso a torna maravilhosa. Se o passado um dia foi bom, houve uma época em que vivemos antes dele, que talvez tenha sido melhor. Suportamos a vida antes daquele acontecimento que julgávamos essencial, e que não podíamos ficar sem, porque não vamos suportar seguir adiante?

Sempre existirão novas pessoas que conheceremos, que perderemos, pelas quais vamos nos apaixonar, que vamos esquecer novamente, que não vão nos fazer tão bem, ou que nos acompanharão para o resto da vida.

Se o passado ainda te assombra, tente deixá-lo pra trás, de onde ele nunca deveria ter saído. Aprendi com uma amiga muito especial: “quando os fantasmas estiverem mais próximos, jogue o cabelo e siga em frente. Assim eles estarão cada vez mais longe”.

Gaste a vida. Acerte, erre, caia, se levante, recomece do zero se for necessário. Nunca se arrependa do que foi feito, encerre o ciclo se ele lhe fizer mal, e siga com ele se isso for bom a você. Porém sempre no sentido certo. 

Go ahead!

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente” (William Shakespeare)





sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A última dança


10 anos. Nunca mais um encontro. Esforçou-se para evitar todos, apesar de ter pensado nela a cada dia. Fez questão de nunca mais ter notícias, evitava o assunto com os amigos e continuava a levar sua vida, agora bem reservada. Seus passatempos tornaram-se constantes, como o encontro com seus 2 melhores amigos na terceira quinta do mês, a assistência aos carentes semanalmente e suas idas sozinho ao futebol.

Por algum motivo teve notícias que ela se casaria. Não deu importância e não guardou a data. Saiu pra comprar seus 3 pãezinhos integrais, e seguiu para seu encontro mensal.

Chegou cedo, pegou a mesma mesa, pediu o mesmo café carioca. Ninguém apareceu. Imaginou ter errado o dia, afinal, tudo ali por tantos anos era praticamente igual. A chuva que pouco se via nessa época insistiu em cair. Depois de tanto tempo ela apareceu.

Aproximaram-se. Dançaram. Ele prendeu a respiração e fechou os olhos. Em apenas 2 minutos passou-se quase uma vida. Lembrou-se de como se sentia antes. Sentiu uma névoa de nostalgia e paixão. Trocaram apenas um “oi”, ela partiu e ele ficou.

E a velha paixão já não tinha sido tão brilhante como antes, não encheu os olhos de lágrimas, já não despertou saudades. Sentiu apenas algo constante e frio, como o tempo úmido que insistia em borrar a noite de inverno.

Percebeu que com a mesma rapidez que a paixão ressurgira foi embora. E com ela levou todos os fantasmas que alimentou nesse tempo. Sorriu. Finalmente notou que o passado tinha ficado para trás, não haveria algo que pudesse avançar.

Provavelmente notou (mas não quis assumir) que o amor só vale a pena quando se faz vivo, e não na forma de algo incompleto, aguado.

Na semana seguinte ela o procurou, esperava encontrá-lo no mesmo lugar onde sempre estiveram juntos. Achou apenas um lugar silencioso, cheio de lembranças esvaziadas e remotas que agora não serviam a mais ninguém. A ela coube guardá-las em algum lugar.

A ele caberia a partir de agora uma nova dança, novas lembranças e outros lugares. Algo que por muitos anos o esperava: uma nova vida.