terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Voltaremos a ser quem éramos?



Quanta coisa se passa ao longo de um ano? Em um ano poderemos realizar um sonho, pessoas queridas vão chegar ou vão partir de nossas vidas. Algumas pessoas se casam, outras se separam.

Em um ano pode ser que você descubra sua verdadeira vocação, ou que sinta que está indo pelo caminho errado. Alguns vão mudar, outros vão seguir no mesmo rumo, às vezes não por um, mas por muitos anos.

Em um ano pode-se tentar ser feliz, mesmo que para isso tenhamos que enfrentar milhões de obstáculos. E se não deu certo, não restará a dúvida de não ter tentado. Ou ainda pode-se deixar a vida passar e ver o arrependimento chegar.

Em um ano pode ser que você se case, ou tenha seu primeiro filho. Pode ser que nesse ano você descubra seu verdadeiro amor. Se ele ficou perto ou longe, pelo menos você conheceu quem te fez perder o fôlego e sentir um frio incontrolável na barriga.

Em um ano você pode ter emagrecido alguns quilos. Não porque alguém te mandou, ou porque isso incomodava aos outros, mas sim porque foi sua vontade. Ou pode ter engordado. Contanto que você sinta-se bem, ninguém poderá contestar sua atitude.

Em um ano você pode surpreender-se com quem menos você imaginava, pode ter dado sua amizade a quem não deveria, mas pode ter recebido um carinho de quem você menos esperava. E para esses diremos o quanto elas são importantes, e que as amemos o suficiente para não sentirmos remorso.

Em um ano você pode passar as melhores tardes de outono, correr na garoa e sentir-se de alma lavada. Passar calor e não importar-se mais. Rever familiares queridos, que por um motivo bobo ficaram longe por anos. Ainda chorar de saudades por alguém que te deixou há muito tempo, e sentir que sempre estivemos amparados, em qualquer lugar desse universo.

Em um ano você irá colecionar fantasmas, reais ou imaginários. Saberemos conviver com eles ou iremos lutar pra que eles não apareçam. Sentiremos que eles só voltarão se quisermos, ou quando quisermos.

Em um ano você pode ser arrogante. Pode ser sozinho. Pode ser insistente. Pode achar que a vida não é feita de mudanças, e que se elas acontecerem, você não estará preparado. Mas não será verdade.

Em um ano você vai aprender a escutar conselhos de quem te ama de verdade. Vai erguer a cabeça, arrepender-se dos erros e aprender. Porque a vida será sempre um aprendizado.

Em um ano provavelmente não voltaremos a ser quem éramos. Não importa o que você tenha feito, como viveu, ou se algo o assombrou. Se você julgou certo, se foi errado, se foi precipitado, esqueça! Já faz um ano...

Feliz ano novo.


domingo, 29 de dezembro de 2013

Há um ano...


Quando, há 12 meses, decidi começar esse blog, talvez eu mesmo não acreditasse que ele chegaria a um ano de vida. Hoje, porém, escrever e publicar aquilo que sinto é algo que não consigo viver sem.

Nesses 365 dias, os 85 textos que escrevi passaram por todo tipo de transformação e sentimento: já foram azedos, apaixonados, felizes, tristes, esperançosos e céticos. Transitaram entre as histórias (su)rreais e os contos. Foram, em alguns momentos, um relato fiel da vida, e às vezes meus únicos companheiros. Confesso que nem sempre foi fácil.

Amigo leitor, a você que esteve comigo durante esse ano que se passou, ou que chegou há pouco tempo, deixo meu sincero agradecimento por essa companhia. E o mesmo recado que deixei no primeiro post desse blog ainda continua valendo. Ele sempre será o motivo de existência dessa página:

“Esperem textos sem assuntos específicos, mas sempre muito passionais”.

As duas listas que coloco a seguir têm significados especiais. Na primeira, listo os cinco textos que são os meus preferidos. Uma grande parte daquilo que foi muito importante nesse período, todos os sentimentos de um 2013, no mínimo, diferente.

1 - 03/02/2013: O último dia do verão

2 - 13/01/2013: O catador de papelão

3 - 28/01/2013: Eu te amo

4 - 01/07/2013: Cartas para Marina

5 - 08/10/2013: Passado


Na segunda lista estão os textos mais acessados na página. Uma homenagem a você, leitor, o verdadeiro dono desse blog.

1 - 17/01/2013: Vamos a Bebadroski?

2 - 18/01/2013: Everyday I Have the Blues

3 - 03/10/2013: A última dança

4 - 05/01/2013: Quantos amigos você tem?

5 - 29/07/2013: O personal


Que venham outros 29 de dezembro...

Muito obrigado!


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal


A data pode não ser a correta, o feriado pode ter se tornado mais importante que o significado. Ele pode ter sido desvirtuado por tudo que se aplica comercialmente, mas ainda tem seu real motivo para existir.

Que o aniversário de Jesus ainda possa significar o que ele verdadeiramente é: o momento do nascimento, do recomeço, da reverência e do respeito, e principalmente, da renovação da fé.


Feliz Natal



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Esta noite teremos que ganhar... (parte 2)


Veja a primeira parte do post aqui

16/12/12: era a final. Corinthians e Chelsea, direto de Yokohama. Evitamos os ônibus da torcida, estava muito apreensivo pra isso. Decidimos não tomar café no hotel, não queria ouvir os comentários e os palpites da torcida. O coração já estava na boca desde cedo. Naquele dia não consegui ligar pra casa, a apreensão tornou-se maior.

Depois de um café da manhã em uma padaria do Japão, voltamos ao hotel. Tentei fazer de tudo pra que a hora passasse, em vão. Meio dia, decidimos caminhar à estação de trem e almoçar no caminho.

Duas horas nos separavam de Yokohama E às 4 horas chegávamos ao estádio. Não sem antes atravessar uma passarela lotada de corinthianos. Bandeiras, camisas, gritos da torcida, uma energia que nos levava de volta à São Paulo.

A partida preliminar foi o jogo mais demorado que assisti em minha vida. E após um breve intervalo para um lanche – confesso que não lembro o que era, já estava “anestesiado” – os times estavam em campo.

Jogo duro no começo. Chelsea com alguns bons ataques. Corinthians um pouco preso na defesa, ameaçou alguns chutes, mas só. No final do primeiro tempo, um escanteio, uma bola que sobrava na área do Timão, um chute certeiro de Fernando Torres... E para alegria de todos os 30 mil alvinegros: Cássio defenderia. Foi a primeira de muitas defesas que o goleiro – melhor jogador da partida e do campeonato – faria naquele dia.

Intervalo. Aquele momento em que você não sabe mais se quer ou não quer que o jogo recomece. Ninguém se mexia. 15 minutos que pareciam 100. Os times começavam a retornar.

Segundo tempo. A máxima corinthiana de 2012 estava de volta. Uma defesa sólida, ataques bem estruturados, aos poucos, foi a tônica dos primeiros 20 minutos.

E eu, bem em frente ao gol do fundo do estádio, vi uma bola sobrar nos pés de Emerson, que passou para Paulinho. O meia corinthiano deixou a bola para que Danilo chutasse...O zagueiro salvaria. E a bola caprichosamente subiria para a cabeçada certeira de Paolo Guerrero: era o gol do título.

O frio na barriga tornou-se uma falta de ar e um quase desequilíbrio das pernas. O estádio explodiu! Vi o filme de todas as finais que assisti: 1990, 2000, 2005... Torcedores do mundo se abraçaram, japoneses ou brasileiros, pessoas que conhecíamos ou não.

É claro que não seria especial se não fosse sofrido. Nunca ia ter o mesmo gosto. Repeteco de todos os jogos do timão em 2012, a defesa estaria pronta para salvar tudo aquilo que viesse ao seu gol. Cássio, na melhor atuação de sua vida, fez defesas que nunca tinha feito na carreira. Um gol impedido calaria e depois ensurdeceria o estádio. O jogo não acabava...

E depois de uma bola na trave (sim, faria parte do sofrimento final) o árbitro toma a bola em mãos e apita. Não há mais frio na barriga, nem apreensão, nem ansiedade. Era hora de gritar. E eu gritei: Corinthians, bi campeão mundial!

O que se viu nos dias seguintes é pura história. A noite de Tóquio tomada pelo bando de loucos, a manhã do Brasil onde o trânsito e a vida pararia. E na minha lembrança fica um retorno ao hotel de muitos “Vai Corinthians” e “É campeão”. Era o bicampeonato do mundo. E eu estava lá, há exatamente 1 ano.

“Vamos... Vamos Corinthians...
Esta noite, teremos que ganhar...”

E ganhou!



segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Esta noite teremos que ganhar... (parte 1)



Quem é suficientemente louco para atravessar o mundo atrás de um sonho? O torcedor de futebol é. E com respeito a todas as torcidas do Brasil (não quero em nenhum momento desmerecer ninguém), a torcida do Corinthians é muito mais.

Somente o auto-intitulado “bando de loucos” levaria 30 mil pessoas a um estádio de futebol no Japão. O melhor de tudo, eu era um deles.

Estávamos no Rio de Janeiro, no começo de julho. Eu e meu sócio tínhamos acabado de voltar de viagem dos Estados Unidos. Não tinha conseguido ver meu time do coração conquistar a América, e sabia que seria um arrependimento se eu não assistisse ao campeonato mundial de clubes. Uma breve conversa com nossa agente de viagens, e estava decidido: em dezembro estaríamos no Japão.

Confesso que a viagem é desgastante. 23 horas de viagem, com uma breve parada na Turquia. Para quem detesta voar, não é fácil. Porém a chegada à terra do Sol Nascente acabaria com qualquer desgaste.

Primeira missão: os ingressos! E eles estavam lá, numerados, com meu nome escrito, com o jogo definido e o nome do Corinthians neles. Primeiro frio na barriga de muitos que passaríamos.

12/12/12: primeiro jogo. Era a semi final contra o Al Ahly, do Egito. A viagem era longa: 5 horas de ônibus de Tóquio à Toyota – depois descobri que poderia ter ido de trem, em 3 horas. Um frio cortante lá fora, um ônibus quente e o Monte Fuji ao nosso lado dariam o panorama da ida. Na chegada, uma caminhada de 1 Km até o local do jogo, acompanhados de outros 20 mil torcedores.

Estávamos lá. Era o Pacaembu do Japão. Conosco, - 2 oC de temperatura, uma torcida animada, e as comidas de estádio do Japão: churros à equivalentes 8 reais, um croquete de curry e um cachorro quente frio e com um pão duro. Tudo pronto.

Confesso que a música de entrada dos times me fez chorar. No Brasil eram 8 da manhã de uma quarta feira onde só se falava nisso. Estávamos cansados de ouvir dos anti corinthianos que o Timão não passaria da primeira fase. Passou! Com um gol de Guerrero aos 29 minutos do primeiro tempo, estávamos na final de domingo.


Passeios na quinta, sexta e no sábado não tiravam a empolgação e a apreensão do torcedor. Por onde passávamos ouvíamos o tradicional “Vai Corinthians”. Desde a Apple Store de Shibuya até à farmácia do lado do hotel em Tóquio, o Japão estava tomado.

(continua amanhã)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Intuição


É tão involuntária e tão sincera. Inexplicável e completamente crível. Tão inconsciente, mas tão presente.

A intuição vai nos dar a primeira e mais perfeita sensação daquilo que sentiremos por alguém, mesmo que nossa consciência queira dizer que não. Ou ainda será a solução de um problema que simplesmente aparece mesmo sem uma análise prévia de tudo que está acontecendo.

Vai nos dizer quem é amigo, ou inimigo. Mesmo que o medo e a distração nos façam mudar de opinião, sempre seremos surpreendidos com o inconsciente batendo à nossa porta, nos "incomodando" de certa forma.

Vai ser aquele momento em que teremos certeza de quem manter por perto, de segurar pela mão, de seguir em frente ou de recuar, de olhar para um lado e mesmo sabendo que possa parecer menos prudente, seguir pelo outro.

É a energia mais verdadeira, o som da alma, o sentimento real do espírito. E o melhor, não há explicação, é apenas a bússola que vai nos mostrar o caminho, sem pedir nada em troca, sem estatísticas, sem previsões ou julgamentos.

O olhar nos olhos, a primeira impressão, o primeiro movimento. Aquele frio na barriga ou aquele sentimento estranho. Um sorriso iminente ou um olhar desviado. A sensação de estar próximo ou de querer se afastar. Tudo estará ali, apenas com o movimento da alma.

Será nossa visão nos momentos de escuridão, nossos ouvidos nos momentos de extremo barulho, ou de extremo silêncio, nosso prumo na falta do labirinto.

Ainda que seja esquecida, em algum momento ela vai aparecer e nos fazer lembrar daquilo que escolhemos. Mesmo que a escolha seja enfrentar a solidão, ou um mundo desfavorável, haverá sempre o sentimento de ter se escolhido com a alma.

E tenha certeza, sempre vai dar certo. Basta acreditar.



“Tenha coragem de seguir o que seu coração e sua intuição dizem. Eles já sabem o que você realmente deseja. Todo resto é secundário.(Steve Jobs)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Na terra do sol nascente (parte 2)



Veja a primeira parte do post em http://true-marcosvini.blogspot.com.br/2013/12/na-terra-do-sol-nascente-parte-1.html

Essa loja era a Yodobashi Camera, que além de vender câmeras (puxa...) comercializava todo o tipo de eletrônico que se possa imaginar, passando por instrumentos musicais e componentes para se consertar um rádio. Além disso, em qualquer esquina se encontrava uma filial do lugar. Chegamos a conclusão que eles vão dominar o mundo (rs).

A experiência fora de Tóquio também foi diferente e espetacular. Fomos à Kamakura, a cidade do templo de Buda. E tenho certeza ao rever as fotos daquela época, não houve um lugar em minha vida onde tive tanta paz de espírito e boa energia. Nunca me senti tão em paz comigo mesmo, poderíamos ter passado anos ali sem que nada nos incomodasse, nem o barulhento bonde que percorria 3 estações até lá.

Estranho falar em um bonde (que tinha som ambiente de passarinhos cantando), principalmente esse que conduzia os moradores às gigantes e imponentes estações de trem. Isso sem falar dos trajetos no trem bala e nas milhões de linhas de trem regular e metrô existentes no Japão. E mesmo assim eles não atrasam segundos sequer. E se houver um acidente ou uma pane você será avisado, mesmo que isso ocorra do outro lado do país.

Foi em Kamakura que tivemos as duas experiências gastronômicas mais interessantes do Japão. A primeira: a cidade é a terra do Dorayaki, docinhos como uma bolacha recheada feitos com massa de rocambole (alguns continham chá verde na massa) e recheio de feijão. Se você torceu o nariz esqueça, é o doce mais macio e saboroso que já comi.

A segunda: o Mauricio “farejou” na hora do jantar um de seus pratos favoritos, chamado Carê (Curry). Após sentir o cheiro vi meu primo procurando em qual das portas de uma travessa da avenida principal estava o restaurante de decoração francesa, que servia o prato em uma molheira, com variedades de carne, arroz e alguns legumes (me deu fome e saudades só de lembrar, né Mau?).

E só de pensar, muita coisa já me deixa morrendo de saudades. De Kyoto, a primeira capital, de seus templos da dinastia Edi, lindos por sinal, e conservadíssimos desde antes do ano 1000, quando foram construídos.

De Shibuya, a “Vila Madalena” do Japão - lugar recheado de lojas de roupas, restaurantes descolados e cinemas, e o tradicional Krispy Kreme, que amo -  lembro das compras de discos na Tower Records, na foto com a estátua do cachorro Hachiko (do filme Sempre a seu Lado), exemplo de lealdade e fidelidade para os japoneses.

E as besteiras que necessariamente vão aparecer quando se está em um lugar estranho? Principalmente quando dois melhores amigos estão juntos. Foi impossível não morrer de rir com o Mauricio comentando sobre o cumprimento dos japoneses:

Pessoa local nos agradecendo por uma compra, por exemplo:
- Domo arigatou gozaimasu (significa muito obrigado).

Mauricio olhando pra mim e perguntando:
- Esses caras querem sempre mais. Mais o quê?

Da viagem, ficam as lembranças de um lugar muito organizado, com pessoas gentis e educadas o tempo todo (uma lição para o povo daqui), o título mundial de meu time de coração e uma saudade imensa. E da companhia, fica a certeza de uma grande amizade e parceria, como sempre em todas as nossas trips pelo mundo.

DOMO ARIGATOU GOZAIMASU! Obrigado Japão.





quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Na terra do sol nascente (parte 1)


Há um ano eu partia para uma viagem e carregava a certeza de uma coisa: seria inesquecível. E foi. Há exatamente um ano viajamos ao Japão, para o campeonato mundial de clubes de 2012.

Corintianices à parte (deixemos a emoção do campeonato mundial para outro post), visitar a terra do sol nascente era algo que eu não esperava acontecer tão cedo. Quando a oportunidade apareceu, sabia que era única. Eu e meu parceiro de sempre, Mauricio Jabur, não deixamos passar.

E assim partimos, no dia 3 de dezembro de 2012, depois da realização de um evento que nos deixou duas noites sem dormir, rumo à Turquia, e depois para outro lado do oceano. Confesso que viajar 23 horas não foi fácil, senti em alguns momentos que era muita coragem só pra assistir a um time de futebol.

Depois de passar por Istambul dois dias estávamos em Tóquio. E acredito que a sensação que tive é a mesma de toda pessoa do ocidente que ali chega: estávamos em outro mundo!

Não há como comparar com nada do que já vimos por aqui. Todos os prédios acendem seus letreiros, piscam, falam, giram e fazem todas as interações possíveis. Pessoas andam loucamente em todos os sentidos, falam aos telefones como se estivessem em um pregão da bolsa de valores, entram e saem de lojas, estações de metrô e trem.

Porém aquilo que nos pareceu altamente hostil na chegada foi apenas uma impressão que se desfez em alguns minutos. A pressa das pessoas não as priva da educação e da cordialidade. Pelo contrário, graças a isso nos livramos de muitas “roubadas”.


Imagine-se, caro leitor, dentro de um restaurante onde há apenas um balcão, mas não há caixa. Pois é, ao entrarmos no lugar e tentarmos pedir uma comida, não conseguíamos entender porque o atendente saiu correndo para o meio da rua. Descobrimos depois que era preciso comprar um ticket na entrada, em uma maquina tipo caça níqueis.

E quem consegue (veja a foto abaixo) escolher e pagar algo em uma coisa dessas? Por sorte um rapaz que saía do trabalho e falava inglês perfeitamente nos ajudou a escolher e jantar pela primeira vez do outro lado do mundo.


 Por que eu citei o inglês perfeito? Os japoneses preferem dizer que não fazem algo a falar que o fazem de maneira incompleta. Por sorte descobrimos que era possível se comunicar se eles falassem “apenas um pouquinho” de inglês, bastava quebrar o gelo e fazer uma cara feliz. Não esqueço até hoje do Mauricio fazendo um “joinha” ao vendedor de uma loja.

(continua amanhã)


sábado, 2 de novembro de 2013

Bravo


Acerte mil vezes. E erre uma. Será essa lembrança que muita gente terá de você. E com todos os julgamentos do universo, provavelmente. Atualmente tudo o que se faz conta em enorme quantidade, como se fosse o julgamento final, a decisão definitiva do bom ou do ruim, o destino selado sem mudança para o futuro.

Tomar uma decisão importante, que pode mudar de rumo pra sempre, será sempre mal vista pela maioria das pessoas. Tantos acreditam que a mesmice é o mais solene. Levantar no mesmo horário, fazer o mesmo caminho, sentar na mesma cadeira ou tomar o mesmo suco é a felicidade de tanta gente...

Se a maioria vai nos criticar, teremos sempre aqueles que estarão do nosso lado. Os que acreditam realmente que poderemos ser felizes, independente do rumo que tomemos. São esses que chamaremos de amigos para sempre, ou de pais, ou de irmãos, ou de meu amor. São eles que saberão te aconselhar quando você errou, e vão te dar todo o apoio sem nenhum julgamento.

Mesmo assim às vezes não nos damos conta de quão próximos estão aqueles que nos amam, e damos muito mais valor às opiniões ruins e invejosas de gente que nem importa e nunca vai importar pra nada. E por conta disso deixamos de cativar àqueles que nos fazem bem.

Uma consequência disso é o quanto a gente se expõe sem precisar. Quantas vezes perdemos a oportunidade de ficar quietos? Uma grande virtude é aprender que as coisas boas acontecem nos momentos certos, quando sabemos esperar, entender e nos calar diante daquilo que virá pela frente. E não realizar só para aparecer...

Esperar é uma virtude, no entanto mais ainda é a braveza de saber se calar. Surpreender na hora certa, e ter calma para saber qual é esse momento. Além disso, é importante torná-lo especial pra quem importa, e não para um bando de stalkers, especializados em julgar. A esses caberá apenas o nosso silêncio.

E sim, caso tomemos um novo rumo, é bom que tenhamos consciência de que ele pode significar muita coisa. Pode ser um erro, uma volta ao passado, ou um caminho sem destino com uma ponta de esperança no final.

Caso seja algo ruim, aqueles que nos cercam estarão do nosso lado para nos levantar. Se o caminho for tortuoso, mas houver uma luz, já temos boa parte daquilo que sonhamos, pois essa perspectiva de encontrar o que queremos vai nos fazer feliz por muito tempo.

E tenha certeza, essa luz vai se abrir e tornar-se um sol claro e quente... É só querer!


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Passado


O próprio título nos fornece a mais didática das explicações. E ele não vai voltar. É como o tempo, as pessoas, a vida, que vão sempre andar pra frente e nos afastar dele cada vez mais.

Tentar viver o passado, além de ser impossível, nos apega a coisas que já não temos mais. Escorar-se em lembranças é o caminho para o apego e para o esquecimento do que se vive e se viverá.

Infelizmente nem sempre é tão fácil. Talvez o pior de tudo seja livrar-se dos fantasmas. E eles sempre voltarão, enquanto nos perguntarmos “por que”, “quando” ou “onde”, ou ainda se guardarmos todas as lembranças e momentos que um dia já existiram. Remoer o pensamento das coisas que nos fizeram bem, das lembranças e daquilo que está guardado é o combustível que nos levará de volta ao antigo.

Isso não serve necessariamente para uma lembrança ruim, ou algo que nos magoou. Mesmo o saudosismo de bons acontecimentos nos privam de viver aquilo que temos pela frente. Ser eternamente criança, estar integralmente apegado aos pais ou parentes, ou ainda querer voltar em um tempo em que se era mais feliz não nos recolocarão de volta nesses momentos. O melhor é simplesmente deixar ir.

Encerrar etapas. Talvez essa seja a melhor coisa do imprevisível relógio chamado vida. Desmanchar um relacionamento, esquecer alguém por quem se esteve perdidamente apaixonado, trocar de emprego, deixar de ver uma pessoa que você um dia chamou de melhor amigo são fases que terminam e não necessariamente significam uma derrota porque ficaram para trás. Apenas querem dizer que foram boas durante aqueles momentos em que ocorreram, e talvez tenham terminado porque o ciclo havia se tornado completo.

Essa mesma vida que nos apega nos fornece essa possibilidade de irmos adiante. Isso a torna maravilhosa. Se o passado um dia foi bom, houve uma época em que vivemos antes dele, que talvez tenha sido melhor. Suportamos a vida antes daquele acontecimento que julgávamos essencial, e que não podíamos ficar sem, porque não vamos suportar seguir adiante?

Sempre existirão novas pessoas que conheceremos, que perderemos, pelas quais vamos nos apaixonar, que vamos esquecer novamente, que não vão nos fazer tão bem, ou que nos acompanharão para o resto da vida.

Se o passado ainda te assombra, tente deixá-lo pra trás, de onde ele nunca deveria ter saído. Aprendi com uma amiga muito especial: “quando os fantasmas estiverem mais próximos, jogue o cabelo e siga em frente. Assim eles estarão cada vez mais longe”.

Gaste a vida. Acerte, erre, caia, se levante, recomece do zero se for necessário. Nunca se arrependa do que foi feito, encerre o ciclo se ele lhe fizer mal, e siga com ele se isso for bom a você. Porém sempre no sentido certo. 

Go ahead!

“Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente” (William Shakespeare)





sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A última dança


10 anos. Nunca mais um encontro. Esforçou-se para evitar todos, apesar de ter pensado nela a cada dia. Fez questão de nunca mais ter notícias, evitava o assunto com os amigos e continuava a levar sua vida, agora bem reservada. Seus passatempos tornaram-se constantes, como o encontro com seus 2 melhores amigos na terceira quinta do mês, a assistência aos carentes semanalmente e suas idas sozinho ao futebol.

Por algum motivo teve notícias que ela se casaria. Não deu importância e não guardou a data. Saiu pra comprar seus 3 pãezinhos integrais, e seguiu para seu encontro mensal.

Chegou cedo, pegou a mesma mesa, pediu o mesmo café carioca. Ninguém apareceu. Imaginou ter errado o dia, afinal, tudo ali por tantos anos era praticamente igual. A chuva que pouco se via nessa época insistiu em cair. Depois de tanto tempo ela apareceu.

Aproximaram-se. Dançaram. Ele prendeu a respiração e fechou os olhos. Em apenas 2 minutos passou-se quase uma vida. Lembrou-se de como se sentia antes. Sentiu uma névoa de nostalgia e paixão. Trocaram apenas um “oi”, ela partiu e ele ficou.

E a velha paixão já não tinha sido tão brilhante como antes, não encheu os olhos de lágrimas, já não despertou saudades. Sentiu apenas algo constante e frio, como o tempo úmido que insistia em borrar a noite de inverno.

Percebeu que com a mesma rapidez que a paixão ressurgira foi embora. E com ela levou todos os fantasmas que alimentou nesse tempo. Sorriu. Finalmente notou que o passado tinha ficado para trás, não haveria algo que pudesse avançar.

Provavelmente notou (mas não quis assumir) que o amor só vale a pena quando se faz vivo, e não na forma de algo incompleto, aguado.

Na semana seguinte ela o procurou, esperava encontrá-lo no mesmo lugar onde sempre estiveram juntos. Achou apenas um lugar silencioso, cheio de lembranças esvaziadas e remotas que agora não serviam a mais ninguém. A ela coube guardá-las em algum lugar.

A ele caberia a partir de agora uma nova dança, novas lembranças e outros lugares. Algo que por muitos anos o esperava: uma nova vida.


domingo, 18 de agosto de 2013

37


Um menino. Apenas uma criança que sabia desde pequeno que o principal da vida era lutar para conquistar seus sonhos. Alguém que talvez não tivesse o estereótipo físico no qual todos estavam acostumados. E que sofria mais do que realmente deveria sofrer.

Uma amizade. Ou duas talvez. De um garoto que perdia seu melhor amigo depois de ter realizado um sonho comum dos dois. E a descoberta de um novo que representaria a ele a chegada de um irmão mais velho: dedicado, preocupado com suas atitudes nem sempre ponderadas, e que pensava sempre em sua felicidade.

Duas conquistas. A primeira: de ter tornado seu caminho muito mais leve depois de 18 anos remando em águas barrentas e pesadas. Uma reconquista de sua auto-estima inexistente. A segunda: a busca do futuro por meio da escolha do conhecimento. Não o levaria aonde imaginava chegar, mas onde certamente o faria muito mais feliz.

Duas marcas. A primeira: 10. Anos de um caminho de muito prestígio e poder. Tempo no qual, mesmo colocando o seu coração em primeiro lugar, o faria descobrir da pior forma possível que o principal para vencer as barreiras não era o justo, e sim o feio, o corroído, o desleal. Não aceitaria.

A segunda: 40. Quilos de uma vida dedicada não à saúde, nem ao conhecimento, nem à família. Momentos egoístas que, depois de algum tempo, foram divididos de maneira mais egocêntrica ainda, em um nível quase de auto-reclusão.

Um horizonte. Perceber que, no meio de uma tempestade, era preciso se agarrar a quem mais nos protege, e não naquele que apenas nos encolhe apontando nossos erros. E de saber que aquilo que se faz da vida não está apenas em um lugar, o qual julga-se o mais poderoso. E sim naquele que nos faz feliz e que busca de maneira muito acolhedora o ideal no qual nos engajamos.

Uma espécie de quebra. Da barreira intelectual, onde seria possível substituir a classificação quantitativa pela qualitativa. O momento em que se deixa de ser apenas um número e torna-se a pessoa atrás do ideal comum de uma meta. E da barreira sentimental, onde alguma coisa que já não existia há tempos finalmente se desintegrava, libertando todo o ranço e o fel de que estavam impregnados. Pularia de cabeça.

Um momento. Para refletir e se recuperar. O momento intelectual que começava a andar, primeiro engatinhando e depois em pequenos passos, quase como os de um bebê que estaria prestes a andar com passos firmes.

Mais do que um recomeço. Adormecido, quase indiferente, o amor tinha deixado de ser uma trilha escura em um campo sem grama e barrento, e tinha se feito pleno, como ele deve ser: único. E o então adulto voltaria a ser jovem, novamente movido por um sentimento infinito, que o tiraria do barro e da lama outra vez.

Uma espécie de combustível. Era o que ele precisava para se equilibrar novamente. Os encontros, os telefonemas de “bom dia”, a busca constante por um sorriso o impulsionaram a se livrar dos números indigestos novamente. Dos 40 já foram 28, e dos 10 pelos 5 foram recuperados.

Os 2 próximos números que estão por vir talvez sejam os mais importantes de sua vida. Se conquistados com louvor se transformarão em infinito.

E o principal. Um número para comemorar e chamar de seu pelo próximo ano: 37.


Parabéns pra mim.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Apenas uma tarde de inverno


Por algum motivo saiu. Não deu explicações, não era mais necessário. Deixou seu carro, todas as guerras do trânsito, toda a bagunça da cidade e apenas caminhou.

Em seus pensamentos, a lembrança do salmo 40, seu preferido. Era perfeito para aquela tarde de inverno, a mais fria de todas que já tinha visto. Deixou a garoa bater em sua cara como se cada gota o levasse a um mergulho em águas bem profundas.

Sentiu que ainda estava fora do passo, precisava ter convicção nesse momento. Concentrou-se e caminhou, antes que seu tempo se esgotasse.

Poderia ter andado por horas. O fim de tarde se aproximava e a neblina de que ele tanto gostava tinha chegado. Lembrou-se de um domingo muito especial e nostálgico, quando viu a luz amarela de uma fabrica cortar o denso ambiente daquele começo de noite. Era algo que desejou ter por muitos anos.

Enfim, parou. Desejou esperar ali até a manhã e a neblina do dia seguinte. Viu do topo de uma encosta um fio d’água que caía e corria ao lado de uma linha de trem. Ficou inerte ao notar uma composição passar embaixo de uma passarela, onde uma criança acenava a um maquinista sisudo, que nem a olhou.

Decidiu seguir por ali, percebeu que cada trem que passava levava alguns anos passados de sua vida. Notou que junto com eles ia embora um fantasma diferente, daqueles que colecionou por muito tempo. Teve certeza de que só voltariam se ele realmente quisesse.

Conseguiu livrar-se de algo que realmente o atrapalhava. Agora não fazia mais diferença o que as pessoas pensavam, ou julgavam, ou em que prestavam atenção. E sim aquilo que ele via, todos os mínimos detalhes que deixara passar por vários momentos, inclusive o olhar para seu próprio eu.

E ao mesmo tempo que seguia no sentido contrário das plantas que o vento movimentava, teve a percepção de que naquele momento algo o conduzia para o que era, na realidade, o sentido correto. E que a neblina que o ofuscava, já não era mais tão densa, era confortável como o primeiro olhar depois do emergir das águas turvas de um mar poluído.

Era hora de seguir, dessa vez pela trilha certa. Livrou-se das blusas e do inverno que o acompanhara, a partir de agora eles não serviriam mais para nada.