quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Rosa

Já reparou, amigo leitor, que não importa a sua idade, sua mãe continua sendo igualzinha àquela mulher que você conheceu quando criança? O mais engraçado é que, para ela, você também continua tendo os mesmos 12 anos de sempre.

Acabo de chegar da casa dela. Estou com uma gripe forte, mas é claro que ela já sabia. E é claro que me recebeu com o jantar no prato, laranja cortada, sucos e sobremesas, que só alguém que foi a primeira pessoa a me conhecer pode fazer.

Incrível. Não importa o que aconteça, algo bom ou ruim, ela vai saber primeiro. Mesmo que eu não conte! Talvez até antes de acontecer (nunca ouse duvidar de sua intuição…).

Dona Rosa me tirou de cada uma… Quando quase peguei uma pneumonia (e uma suspensão) na escola por correr na chuva, ou quando foi me buscar porque bati o carro (dela) com apenas 18 anos. As broncas? Inevitáveis. O alívio de ter a pessoa que mais se importa comigo  naquele momento ruim? Inestimável.

Um telefonema no final de janeiro de 1997 fez com que essa senhorinha de origem húngara desabasse em lágrimas. O meu “mama, passei na USP!”  libertou todas as suas emoções. Nunca me esquecerei do abraço e dos olhos cheios de lágrimas  quando ela chegou em casa.

Mesmo assim, às vezes passamos do limite com as mães, não é mesmo? E elas também, às vezes, exageram de um jeito que nunca entenderemos. Como em toda família. Na minha, no máximo em uma hora depois da briga já nos resolvemos:

- A gente briga, mas a gente se ama, né? Diria a Mama (ou Dona Rosa, ou Rugica) nesse momento.

E mesmo que eu não goste de arrumar o rádio de seu carro, nem de explicar mil vezes como se envia uma mensagem de celular (ela nunca vai entender…), ou de sair para comprar gás (essa é terrível), vou fazer, de um jeito ou de outro, o que ela pedir.

Porque ela sempre vai continuar fazendo tudo por mim, como sempre fez e nunca reclamou. Com o mesmo carinho e amor de uma vida inteira.

Mama, te amo!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Prazer, eu mesmo!


E aqui estou eu, amigo leitor, sozinho em casa escrevendo esse post. Não que isso me desagrade, pelo contrário, é tão bom às vezes estar comigo mesmo, frente ao bando de gente louca que existe nesse mundo.

Sim, tenho pavor de gente. Em muitas ocasiões tenho certeza de que todas as pessoas estão me olhando. Engraçado que é algo meio seletivo, nem sempre isso me incomoda, apenas em certas ocasiões.

Algumas situações estranhas acabam comigo. A pior de todas: aeroporto. Pessoas loucas empurrando seus carrinhos contra tudo e todos, como se apenas não houvesse ninguém. E a fila para o check-in? É desesperadora.

Aliás, fila é algo medonho. Por que a pessoa acha que quanto mais encostada em você ela está, mais rápido a fila vai andar? São incontáveis as situações em que deixei de viajar de avião e preferi o carro, mesmo gastando o dobro do tempo.

Restaurante é outro exemplo em que me sinto na vitrine. Principalmente se estou na fila de espera. O olhar de reprovação de quem também está esperando sua vez me dá medo. A pessoa repara na roupa, no peso, na companhia, se estamos derretendo de tanto calor (é frequente comigo) etc.

Praia? Deus me livre! Eis o exemplo mais inspirador para os maníacos de plantão. Nem citei como a pior das minhas fobias, pois é algo que nem frequento aqui no Brasil. Deixo para aproveitar uma vez por ano em alguma viagem ao exterior.

Por falar nisso, tenho quase certeza de que o modo stalker é apenas para brasileiros. Nunca fora do Brasil alguém estranho me encostou (odeio!), nem reparou na roupa, ou notou se eu sou gordo. Talvez seja esse apego nacional por tanta coisa fútil.

Como eu disse, essa loucura de estar longe de gente é seletiva. Shows e campo de futebol não me incomodam. Quem vai ficar reparando nesse público, não é mesmo? Também consigo lecionar com tranquilidade, independente da plateia ou do número de pessoas. Nunca sequer me incomodei com alunos.

E quando a companhia é boa, nada nos incomoda. Até no pior lugar do mundo, tudo estará maravilhoso (mesmo cinema lotado, onde o rapaz de trás insiste em chutar sua cabeça....rs).

Por falar em pavor de gente, lá vou eu ao restaurante tentar comer algo. De preferência sem alguém que me empurre, me olhe, ou me interrompa. Pensando bem, acho que vou ficar em casa...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Professor



É impossível negar. Boa parte daquilo que somos e fazemos nos foi apresentado por um familiar ou alguém que marcou nossa vida permanentemente. É comum ver filhos de médicos seguindo a profissão de seus pais ou engenheiros que só fizeram de suas carreiras algo perfeito, pois foram influenciados por um avô construtor. Ou ainda aqueles que tiveram em alguém representativo o espelho de suas vidas.

Sou professor de matemática por natureza. Mesmo tendo cursado engenharia, nunca coloquei uma gravata e nem entrei em uma fábrica sequer. Desde cedo minha vocação foi para as aulas. Lecionar tornou-se um hábito e, posteriormente, uma maravilhosa profissão.

Porém, a descoberta de sua vocação só acontece se algo realmente importante em sua vida acontecer. E aconteceu comigo, no início dos anos 90.

Recém chegado ao colegial (hoje Ensino Médio), matriculado no curso técnico em eletrônica, não sabia por onde começar. Na primeira semana um milhão de aulas e professores novos. Manhã e tarde. Um desespero.

E eu, que sempre fui um ótimo aluno em exatas, estava perdido. Em matemática! Era assustador. Conjuntos, união, intersecção, equações etc. tudo me parecia impossível. Foi aí que aconteceu.

A troca do professor na primeira semana de aulas por um senhor de olhos azuis me levou a ser o que sou. Seu nome: Carlos Alberto Bonora. Seu jeito único de lecionar, de fazer tudo aquilo que nos parecia insano tornar-se pelo menos aceitável, deu um norte para aquele bando de garotos de 15 anos.

Se não fosse pelo seu jeito tranquilo e seguro de explicar, de enfrentar todo o desespero com paciência, por suas histórias da vida e da matemática, não teríamos conseguido. Seu brilho nos olhos nos fazia a cada dia seguirmos, nunca nos deixaria desistir.

Lembro-me até hoje de suas provas em tardes ensolaradas. Sua insistência para que eu conseguisse me deixou em uma delas até o final do período de aulas, e se não fosse por isso, certamente teria perdido o rumo e o ano. Não foi à toa que escolhi meu caminho.

Esses dias tenho lembrado muito daqueles momentos. Até havia separado um tempo para visitar meu velho colégio. Queria ver se ainda existem Carlos Bonoras por lá, se os alunos ainda estão estudando nas velhas apostilas. Mas depois desisti, preferi guardar as poucas lembranças, porém sinceras, de 1992.

E como é bom ver, pelo meu décimo quinto ano de profissão, que meus alunos ainda têm o mesmo brilho nos olhos que eu tinha naquela época. E que ainda me vejo naqueles rostos juvenis, que terão a vida inteira pela frente, como médicos, engenheiros, jornalistas, e por que não, professores de matemática.




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A churrascaria




Já reparou que não importa a qual delas você vá, a sensação é a mesma? Desde a mais chique, em que deixamos quase um salário mínimo no almoço, ou aquela perto de sua casa, a situação é sempre surreal.

As bexigas na entrada (que você VAI ter que comprar na saída, para seus filhos ou namorada), o barulho das pessoas se matando por um pedaço de carne, o buffet de saladas repleto de pessoas sem rumo.

Falemos das pessoas. Impossível não encontrar a família com três crianças ou mais. Tem a que corre entre as cadeiras, tem a da guitarra barulhenta de brinquedo, e tem as que choram. Ah, e como choram! Parece que anos de tristeza acumulada se refletem ali, naquele mar de ruídos.

O rapaz da regata com a namorada também nunca falta. E é claro que ele vai abrir os braços para chamar o garçom bem no momento em que seu olhar vagar por sua mesa. Superlegal ver o bailar dos pelos embaixo do braço rodeando a carne que chega.

Caso você se disponha a comparecer no final do ano, haverá as famosas confraternizações da empresa. O momento mais desesperador da refeição. Em geral 50 pessoas reunidas em uma mesa bem comprida. E a gritaria sem fim, porque é claro que eles terão que se comunicar com quem está sentado do lado oposto da reunião, senão não há graça.

E o amigo secreto? “Meu amigo secreto é uma pessoa muito legal...”. Sei.

Talvez a única diferença da mais simples é que nela você vai comer três pedaços de carne e 6 bilhões de pedaços de linguiça. O que nem é tão diferente da mais sofisticada, já que você não vai querer fazer feio, e vai comer os mesmos três pedaços de picanha.

Claro, não vamos nos esquecer do final: a sobremesa. O barulho do carrinho chegando me faz lembrar a cena de O Iluminado, quando o menino anda com seu triciclo nos corredores do hotel mal assombrado: nhic nhic nhic... Já reparou que mesmo com 37 opções vamos comer torta holandesa ou profiteroles? Acho que as outras nem existem de verdade.

Mesmo assim, é claro que aceitaremos o convite se ele nos for feito nesse domingo. Mesmo que tenhamos que esperar uma hora e meia para sentarmos à mesa, mesmo que saiamos cheirando a carvão e morrendo de calor, tristes por termos passado da conta, será uma diversão e tanto.

Mas por favor, nada de camiseta regata e palito nos dentes, hein!

Bom apetite.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os irlandeses




Tenho que reconhecer. Apesar de ter apontado o Depeche Mode como minha banda favorita, não posso deixar de citar com igual respeito um conjunto a que já assisti 8 vezes ao vivo, que também tenho todos os discos e que não sai de meu ipod nunca.

Comecei a ouvir o U2 também no começo dos anos 90, porém o contato inicial não foi muito bom. Desde a metade dos anos 80, eu já conhecia algumas músicas que tocavam no rádio, mas, para mim, nada de diferente. Apenas mais uma banda pop de sucesso.

Porém em 91, quando um amigo me emprestou um disco que continha algumas gravações ao vivo, fui conquistado. As apresentações viscerais me levaram da condição de ouvinte para fã.

Comprei os discos antigos, os novos, conheci músicas. Fiquei louco para assistir aos shows que havia em vídeo. E, como fã, sempre fui a favor de tudo que os irlandeses faziam.

Por isso gostei quando nos anos 90 o U2 mudou o tipo de som. Achei muito bom a experimentação eletrônica presente nos discos Zooropa e Pop. Também, ao contrário do que os críticos musicais costumam dizer, (em minha opinião muita porcaria), eu acho interessante que o guitarrista The Edge use muito os pedais de efeito em suas composições. Afinal, são pra isso que eles são feitos, não?

Em 1998, quando vieram ao Brasil pela primeira vez, estive lá, na grade, nos 2 shows. Madruguei na fila em 2006, tomei sol e chuva pra ficar em frente ao palco. Em 2011 me emocionei no primeiro show e me irritei nos outros dois, em meu espírito de fã, apresentações totalmente sem graça.

Briguei. Decidi parar de ouvi-los. Mas por pouco tempo. Ao ver o vídeo de Under a Blood Red Sky, de 1983, percebi que a emoção de toda a obra não valia meu desprezo por apenas achar que o show não foi bom. Talvez não fosse o dia deles que havia sido ruim, e sim o meu.

Muito embora eu escute com frequência a frase “gostava do U2 quando eles eram irlandeses”, eu não acho que seja assim. Acho muito bom que eles tenham mudado de estilo, tenham sido experimentais e procurado na carreira aquilo que mais se encaixava para que fossem uma grande banda.

Hoje, é muito bom sair em minhas caminhadas ouvindo os caras que, em 1991, deram outro rumo a minha definição de rock’n’roll. Cada interpretação de Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. ainda me emociona. E tenho certeza que vão me emocionar por muito mais tempo.



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Na trilha do sol sustenido





É muito interessante como somos influenciados por pessoas e atitudes, e como isso é importante nessa vida. Na música não é diferente. Bandas como U2, Van Halen e Depeche Mode têm dado o rumo musical desses meus 36 anos. É claro que na adolescência quis ser um astro do rock (e quem não queria nessa época?), por isso resolvi aprender a tocar bateria.

O próximo passo é ter uma banda. Passei por todo tipo de aventura, desde a banda cover até a minha própria (que nesses últimos 6 anos anda um pouco parada, tenho que reconhecer).

 E como sempre, quando o acaso se faz presente, todo tipo de situação pode acontecer. O problema é quando nos é reservada a vergonha alheia, essa é insuperável.

Em outubro de 2007, fui convidado por um conhecido para tocar em um festival de bandas que aconteceria no final do mês seguinte. O rapaz havia me dito que estava sem banda, tinha um amigo guitarrista e precisava de nossa ajuda. Expliquei a situação ao Adriano e ao Mário, nosso tecladista, que aceitaram de imediato o convite para o show de rock’n’roll.

Tenho um amigo que tem um estúdio, quis aproveitar a empolgação e já marcamos três horas para entrosarmos tudo. Para começar, havíamos definido cinco músicas de repertório. Tudo certo.

Uma hora de espera pelos dois e nada. Ao chegar, o candidato a guitarrista nem nos cumprimentou. Primeiro ligou pra mãe e disse que havia chegado bem. Ao Dria caberia o olho piscando, mas acho que ele resolveu deixar passar.

 Primeira música. Até hoje me recordo da contagem e da introdução, completamente desencontrada. Um ruído insuportável de guitarra, completamente fora do tom. Acho que por dó até tentamos seguir, mas não deu, seria uma injustiça muito grande deixar o Adriano gastar sua voz perfeita naquilo. Paramos tudo.

- O que está acontecendo? - perguntei. A cara do rapaz procurando posicionar as mãos na guitarra nos deu um tom assustador.

- Não está achando o tom? É sol sustenido. - disse o Dria, com toda a boa vontade e paciência do mundo em ajudar.

- Onde é? - perguntou o rapaz, apontando para o braço da guitarra.

Foi desanimador. E desesperador. Só queria levantar e ir embora. “Será que Ringo Starr passou por isso alguma vez em sua vida?”, perguntei-me.

Graças à educação do Adriano, que pediu para o rapaz desligar a guitarra e estudar na outra sala, e que ensaiássemos em outra oportunidade (é claro que não haveria), me acalmei. E a única parte realmente boa daquele dia foram as risadas que demos depois de tocar “A Whiter Shade of Pale” com apenas um teclado, um vocal e uma batera quase desmontada.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ghost Story



Saiu no final da tarde, sob o sol amarelo do meio do verão. Viu a estrada passar por horas, até quase o anoitecer.

Na bagagem levava todas as perguntas que respondeu “não”, todas as lembranças dentro de seus ossos, toda a verdade de seus atos. Não tinha certeza se deveria ter amado. Consigo todos os fantasmas de uma vida, sabia que não haveria exército no mundo que os derrubasse.

Não tinha pisado em nenhuma folha seca. Não havia quebrado nada, nem tinha machucados. Também não saberia a diferença de certo e confuso nem novo e usado.

Seguiu. Notou o sol lhe deixar e o anoitecer se aproximar.

Quanto mais se distanciava, mais as palavras o soterravam. Seus ritmos não floresceriam, os pássaros voariam para cada vez mais longe.

Lembrou-se do último novembro. Resolveu deixar suas lembranças junto com o verão, que ficava para trás. Seus dedos estavam gelados, sua vista turva, sentia-se um mastro sem vela.

Pensou bem.

E seguiu em direção ao inverno. Para quem sabe um dia voltar muito mais forte.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O gringo




Eu sei que é normal sermos confundidos com alguém, apesar da vergonha que isso nos causa muitas vezes. É terrível quando você vai na certeza de que a pessoa é um conhecido, e ela te olha com aquele olhar de paisagem.

Mas pior é a minha situação. Não sou confundido com ninguém, apenas as pessoas acham que não sou brasileiro! Já fui confundido com turco, com americano, e,muitas vezes, acham que sou canadense.

Ok, tenho que reconhecer. Eu uso roupas importadas, boné do Miami Dolphins, sou gordo e fico parecendo um peru de tão vermelho no calor, mas isso não é tão anormal, frente à diferença de ascendência do povo brasileiro.

Incrível. Viajo para o exterior, é certeza de confusão. Em agosto, na volta de Miami, chegando à imigração em São Paulo, a inspetora não teve dúvida. Falou em inglês:
- Vocês dois, a fila da imigração estrangeira é a outra!

Nosso “ah, muito obrigado” desconcertou a moça, que tinha certeza que eu era americano.

Japão. Milhares de corinthianos fazendo compras. Na Apple Store designaram até alguns vendedores brasileiros que trabalhavam na loja para atendê-los. Menos pra mim! Entrei, com toda tranquilidade a moça veio nos dizer que era de São Francisco e perguntar de que parte dos Estados Unidos eu era. Surreal! Ela até assustou quando viu que era do Brasil.

Minas Gerais. Fomos a Inhotim, uma fazenda que abriga o maior acervo de obras de arte da América Latina. Chegamos, e a monitora já me olhou estranho. Nem precisa dizer:
- Vocês precisam de um guia bilíngue para seu amigo canadense?

Da série: não há limites para o pior... Rio de Janeiro. Trabalhávamos em uma ação da Petrobrás que montava uma festa para os atletas olímpicos, na Cinelândia. Correria para a montagem de tudo, algumas estavam atrasadas. Estou bem no centro da praça definindo algumas coisas quando um rapaz se aproxima:
- Hello, my name is Daniel and I would like to talk about our lord, Jesus Christ.

É claro que virei motivo de piadas por toda a semana.

E pra terminar, o motivo da inspiração. 7 Km de caminhada no parque debaixo de sol quente; depois de 20 dias de chuva até que estava gostando. Meia hora depois – também, havia percorrido quase 4 Km – estava completamente vermelho, quase um camarão. E no espaço silencioso das musicas de meu ipod:

- Ai Lourdes, acho que ele é gringo. Olha que vermelho, deve estar morrendo aqui.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Dias de chuva




Naquele dia lindo de sol tudo o que precisava se lembrar era do beijo apaixonado e que estaria aquecido ao lado dela. Foi o que ele fez. Teriam tanta coisa pra viver a partir daquele momento.

Prometeu protegê-la pra sempre, ela era tão pequena. Tomou-a nos braços e levantou-a. Aqueles minutos de caminhada de mãos dadas pareciam dias ou anos.

No dia seguinte de chuva, perceberam que eles eram tão diferentes, ninguém entenderia como se sentiam. Ainda tentou ficar próximo dela, mas a chuva só aumentou.

Foram vencidos pelas águas daquela tempestade, misturadas com suas lágrimas. E ele foi embora.

Assim, por anos e anos, a chuva não passou. Quis voltar, quis ligar. Cada vez mais um dilúvio o atacava. Começou a se perguntar por quê.

Sabia que precisaria se molhar um dia, nem que fosse pra ver as cicatrizes que a chuva deixara. Criou coragem e olhou através dessas marcas. Encontrou apenas um vazio.

Chorou mais um oceano ou dois. Sabia que não devia ter ido. Ficou sentado ali por muito tempo, esperando pra ver se tudo aquilo secava.

Todavia a chuva que uma vez a fez tão pequena, também a fez tão forte. Cansou-se de esperar. Foi buscá-lo no meio da correnteza. E tirou-o.

Tudo para que a chuva passasse. Pra sempre.





sábado, 9 de fevereiro de 2013

É carnaval!




Com essas duas palavras do título algum compositor de escola de samba já haveria emendado um refrão:
- Éééé carnaval...

Não sem antes aquele cara que fica apenas ao lado do puxador do samba, apenas repetindo as estrofes, gritar:
- É carnava-al!

Aliás, acho que existe uma máquina que gera sambas enredos. Basta colocar algumas palavras chave que as composições já saem prontas. Note que elas sempre contém as palavras magia, esplendor, maravilhoso, Sapucaí e Anhembi (olha, rimou!), no Rio e em São Paulo. Viu como é simples?

Mas nada é pior que o desfile das Escolas de Samba. Começa pelos temas, que geralmente têm nomes incríveis, mas não significam nada. Como interpretar coisas do tipo “Do batuque ao balacobaco: uma odisséia”. Se alguém souber me explique, porque acho que não tenho capacidade de entender o que isso significa.

Os carros alegóricos e as fantasiam também são algo próximo do inacreditável. Ouvi esses dias que os carros são o reflexo da interpretação do samba pelo carnavalesco. Ótima desculpa, não? Se colocarmos uma vaca voando está ótimo. Afinal tudo é questão de interpretação.

Já as fantasias são um caso à parte. Todas têm nome e significado true. No meu caso é demais entender exemplos desse tipo:
- Agora a modelo usa a fantasia Farroupilha, representando o Rio Grande do Sul.
E a pessoa (geralmente alguma ex BBB) está quase nua.

E, como baterista que sou, acho muito interessante ouvir o pulsar de uma bateria de escola de samba... Por aproximadamente 3 minutos ou menos! Ficar acordado à noite para ouvir a mesma coisa é absolutamente degradante. Ah, mas me esqueci da incrível paradinha das baterias, como pude perder...

Entretanto, o feriado é maravilhoso, certo? Depende se você viaja e pra onde viaja. Mesmo porque ir à praia ou serra e encontrar metade da população de São Paulo, é preferível ficar e ter a cidade (quase) só pra si.

E assim passarei meu carnaval, pulando-o. Na passarela do Rock já selecionei U2, Rush, Van Halen e Depeche Mode, além do madrugadão dos meus filmes favoritos. Mas só pra não dizer que não participei escolhi algo bem true para a noite de hoje: Kiss – Carnival of Souls.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Uma foto sua





Naquela festa de seu colega de faculdade, conheceram-se. Não ficou ali muito tempo, mas os 10 minutos enquanto conversou com ela foram realmente significativos. Apenas trocaram telefones aquele dia.

No dia seguinte, conversaram um pouquinho por telefone. Ela estava de saída, tiveram que desligar. Ela lhe enviou uma foto.

Sairiam naquela sexta. Tudo pronto, mas ela lhe enviou uma mensagem, dizendo que teve um contratempo. Combinaram outro dia. Teria desistido, se ela não tivesse lhe enviado aquela outra foto, em que se via ao fundo uma parede com a inscrição  Love.

E com aquele desejo e com aquelas fotos em seu celular, imaginou milhões de momentos felizes com ela. Passariam as tardes pelas praias da Europa no inverno, que ele adorava, comprariam uma casa na Toscana e realizaria o sonho dela – que agora também era o seu. Andariam de bicicleta sem destino e sem hora e dia pra voltar.

Mais um encontro marcado. Ela desmarcou por causa de uma dor de estômago. Dessa vez nenhuma foto.

Imaginou uma vida juntos. Mandou-lhe mensagens, ela respondeu algumas. Marcaram o encontro para o dia seguinte. Seria a melhor tarde de sua vida.

O encontro no café bem longe de sua casa foi algo único. E terrível. Não conseguiram conversar sobre um assunto sequer. Nem seus trabalhos - que eram parecidos - conseguiram produzir mais do que dois minutos de conversa, e cinco de silêncio. Tentou ainda falar de tudo que havia planejado pra sua nova vida com ela, mas ela queria mesmo era chamar o garçom e pedir um café. Notou que ele não estava em seu universo. E nem ela.

Tudo o que ele sentiu, tudo o que amou e tudo o que passariam juntos não estava ali, estava na foto.

Deletou-as.





quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Você já errou hoje?





Por muito tempo, eu imaginei que errar era irreversível. Achava que, depois que se erra em alguma coisa, nada mais funciona, não há mais perdão. Felizmente eu estava enganado.

Talvez seja por causa do erro que passamos a gostar mais ainda de algumas coisas ou de algumas pessoas. Já imaginou, por exemplo, o futebol sem erros? Seria a coisa mais flat do universo (tudo terminaria sempre empatado). Ou ainda se apenas um time ganhasse todos os campeonatos por ser o único a nunca errar. Muito útil assistir às partidas, hein?

Imagine ouvir Bono e seu U2 em um show em que não errassem uma única nota ou letra das músicas? Melhor comprar o disco e ouvir em casa. Boa parte da apresentação visceral dos caras está focada naquilo que não está programado, e que às vezes sai errado mesmo. Algo muito verdadeiro e espontâneo.

Até Frank Sinatra escorregou nas letras algumas vezes. E nunca deixou de ser “The Voice”.

É incrível como as viagens que mais dão errado são as mais inesquecíveis. E quando saímos com alguém - na certeza de que seja o relacionamento de nossas vidas – e no primeiro encontro, tudo dá errado? Jamais sairá de nossa cabeça.

Interessantes são os erros que dão certo. Uma das músicas de maior sucesso da trilha de Flashdance tinha sido escrita, na verdade, para um filme de terror chamado Maniac. E graças ao envio da fita errada à gravadora pela esposa do compositor, Michael Sembello tornou-se um dos artistas mais populares dos anos 80.

Se não fosse pelo efeito colateral de um remédio para angina no peito, não haveria o Viagra. O remédio, criado para aumentar o fluxo de sangue no coração, mostrou-se eficiente, mas em outro lugar.

Mas o pior dos erros é quando se desiste de tentar. Não há nada tão ruim como se conformar, achar que tudo está perdido e que não vale a pena. Deixar de viver tudo o que se quer só para não ter que enfrentar a dúvida do erro é como não ter mergulhado na vida, e sim ter vivido à sua margem.

E o melhor dos erros é vivê-los! Cair, se levantar, cair de novo. Aprender a cada dia com isso. Ser inconsequente apenas por alguns minutos de felicidade. Ter muitas histórias pra contar, dos erros que cometemos e consertamos. E ter uma vida muito feliz com isso!




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O cara mais true do rock’n’roll




Quando falamos das origens do rock, é comum nos lembrarmos de Elvis Presley e dos Beatles. Certamente foram os dois maiores ícones de suas épocas, mas não os únicos. Vale lembrar que o rock é uma dissidência da música country americana e do blues. E que não foi criado por um ou dois, foi um movimento.

Por trás de tudo isso estava a poderosa Sun Records, gravadora de Elvis, Johnny Cash e Jerry Lee Lewis, que ouviu e se encantou com Roy Orbison, o cara mais true do rock’n’roll! Dono de uma voz única e grande compositor, foi referência pra muitos desses astros.

E por que o cara mais true? Roy Orbison foi o melhor amigo dos Beatles no auge do sucesso, influenciou a banda em grande estilo; dividiu o palco e suas composições com Elvis Presley, sempre sem estrelismo ou briga de egos. Nunca se incomodou.

Esperava ser apenas um compositor, mas após algumas músicas rejeitadas por Elvis Presley decidiu se arriscar como cantor. E sua voz de 3 oitavas, com falsetes, bem como suas canções de títulos obscuros- muitas vezes reflexos de sua vida - fez com que atingisse o primeiro lugar  e mantivesse seu sucesso por boa parte dos anos 60.

O melhor da música é que ela não escolhe cor, crença nem visual. Apesar de ser um popstar, Roy era o contraponto dos ídolos da época. Tímido, usava sempre óculos escuros (não comentarei sobre sua semelhança com Chico Xavier...) e não era um showman no palco. Entretanto suas apresentações ao vivo eram algo espetacular, de uma qualidade impecável.

O final dos anos 60 seria trágico para Orbison. Viu sua carreira afundar com a perda da mulher em um acidente e de dois de seus três filhos em um incêndio. Passaria discretamente pela década de 70, mas ressurgiria em meados dos anos 80, graças às trilhas de Uma Linda Mulher e Veludo Azul, e à ajuda dos amigos. Seu carisma o levou a ser o ídolo dos ídolos.

Era comum ter convidados famosos na plateia. E um dos shows mais memoráveis de sua carreira - chamado de Black and White Night - contou com a participação de Bruce Springsteen, Elvis Costello, Tom Waits, Jackson Browne, Jennifer Warnes entre outros. Ah, também participou de um grupo “inexpressivo”, que contava só com o Beatle George Harrison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne, chamado Traveling Wilburys, em 1988.

Se você nunca ouviu falar ou só conhece Pretty Woman vale muito a pena conhecer essa obra de um cara true, que colocou a alma em suas canções de rock’n’roll. Destaque para You Got It e A Love so Beautiful.

E de tão true - terminou sua carreira sem ver seu disco de maior sucesso ser lançado. Em 1989 Roy Orbison teve um enfarto fulminante, e teve que terminar sua turnê no céu. Seu disco póstumo Mystery Girl, cheio de hits, mostrava que finalmente ele voltava a estar feliz.




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O caçador de andróides





- Acorde, é hora de morrer!

Incrível como algumas frases são marcantes na vida de uma criança. Com 9 anos, ouvi exatamente essa frase na chamada do filme que se tornou meu favorito: Blade Runner.

Mas minha história com o filme de Ridley Scott começaria apenas 5 anos depois. Não era comum no final dos anos 80 o acesso a tanta tecnologia. Vivíamos em um tempo em que era complicado ter até um vídeo cassete.

Enfim em 1989 consegui, numa das noites épicas na casa do Mauricio, vê-lo. Em preto e branco, vale ressaltar! Aquela fita de vídeo com a exibição da Globo – incluindo os comerciais – mudou pra sempre meu conceito sobre o cinema.

Qual a graça de um filme que se passa em 2019 e tem um ex-policial que caça androides ou replicantes – pessoas idênticas aos humanos, mas criadas em laboratório? Talvez todo o jeito peculiar com que foram retratados os personagens, o tempo que passava diferente, a fotografia da cidade retrofit, degradada pelo excesso de tecnologia. E a chuva, que sempre me apaixona, durante quase toda a história.

E Harrison Ford era o protagonista! O cara que fez o Han Solo estava brilhante na pele de Dick Deckard (na minha opinião, é seu melhor papel), envolvido em uma trama que era, na verdade, uma história de amor. A cena do início, que dá um panorama da cidade cinza com as pessoas comendo macarrão, é algo que ainda me fascina.

Se não bastassem todos os atributos, o diretor foi cirúrgico na escolha da trilha. Vangelis deu todo o ar daquele local futurista, mas que continha as mesmas emoções, dificuldades e angústias do ser vivo, replicante ou não.

Ao passar por Tóquio, em dezembro, foi incrível a sensação. Milhões de propagandas nas ruas, milhares de pessoas andando e falando ao mesmo tempo. E a chuva da noite... Tinha desembarcado em 2019!

Hoje, nesse fim de tarde cinza escuro, com uma chuva fininha e intermitente, lembrei-me de Deckard e de todos os seus sentimentos e a nostalgia dos filmes Cult, algo que infelizmente não voltam mais. E a frase do começo do vídeo abaixo que não me sai da cabeça...









domingo, 3 de fevereiro de 2013

O último dia do verão



Não ia ficar em casa naquele verão. As férias a aguardavam! Saiu, tentou conhecer todos os lugares novos que desejou um dia.

Escolheu a plantação de girassóis pra começar. Amou. Passou pelos maiores vinhedos do mundo. Sujou a mão e a roupa com todas as variedades da fruta. Deliciou-se por horas a fio.

Queria subir na torre incrustada no morro, à beira do mediterrâneo. E assim o fez. Seu maior sonho era andar na praia rochosa e sentir a chuva fina que caía em seu rosto lhe refrescar o dia. Conseguiu, quis ficar ali pra sempre.

Fez amigos reais de férias. Conheceu gente de todo o mundo, passou tardes incríveis de muita risada. Aliás, era difícil não ficar hipnotizado por aquele sorriso lindo, inclusive naquela foto que publicara para os amigos.

Conversou por muitas noites com seus amigos imaginários, naquele deck. O cheiro das orquídeas era inevitável e inesquecível. Sua consciência a levou pra bem longe de tudo, quase do mundo.

Assim as férias se passavam. E a cada dia percebia que a angústia roubava um pedaço do alívio de seu coração. E de seu verão. Não era mais a pessoa realizada de antes.

Começou a notar que nada que ela era e sonhava era novo. Tudo o que ela queria era estar com quem ficou. Os dois sabiam. E era tão fácil, mas ela nunca havia tentado.

Não conseguiu comunicar-se. Mensagens se foram, como o vento daquele vale em que estava. Não voltaram. Chorou lágrimas mais espessas do que aquela tempestade que caía. Viu seu chão afundar junto com a neve alta das ruas, até o último dia de viagem.

Tinha certeza de que seu verão nunca tinha saído de lá. Agora ela só queria que ele a esperasse... 

E ele esperou.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

O mini réptil



Amigo leitor, se você tem algum medo ou fobia de alguma coisa, vai se identificar comigo e perceber como o que menos nos incomoda mais nos mete medo.

Como pode um cara de 36 anos e 125 Kg ter fobia de lagartixa? Pois é, mas eu tenho. Meu nojo se estende à boa parte dos répteis, mas esse bicho gelado (sim, já me caiu uma nas costas, credo!) é terrível. E de todo tipo, desde a menor até aquelas gigantes e transparentes, nas quais se vêem os vasinhos sanguíneos.

Realmente não sei de onde vem essa mistura de nojo e pavor, mas sei que desde criança é assim. É incrível a frequência de episódios com esse bicho, talvez só porque eu o odeie.

Lembro-me bem. Com uns 8 anos, precisava pegar uma sacola de couro que estava atrás da porta da cozinha de casa. Tinha certeza de que ela estava lá. O comentário de minha mãe, inevitável: “imagina, lagartixa não se esconde em sacola”. Pra que fui criar um pouco de coragem? O bicho voou na minha camiseta. Surreal.   

Depois de adulto enfrentei todo o tipo de situação. Já pisei e vi o rabo se desprender do corpo e continuar se mexendo, já me caiu uma na cabeça um dia na casa de uma namorada, já fechei uma porta de banheiro e meti a mão na maçaneta recheada de lagartixa.

Mas nada é pior quando se levanta na madrugada, aquela fome, você se prepara pra tomar o leite com chocolate mais delicioso do universo, e está lá aquele réptil listrado, impávido, bem no meio da parede da cozinha. E você não sabe se termina de colocar o Toddy, se corre atrás da bicha ou se foge. Certeza é que o fim de noite já acabou.

A acidez das pessoas é algo que colabora pra que o pânico nojento seja ainda mais vergonhoso:
- Nossa, é só um bichinho inofensivo!
- Eles têm mais medo da gente do que a gente deles.
- Poxa, você vai matá-la? É só um filhotinho.
- Só entra na nossa casa pra comer mosquitos. É muito útil (sei...).

Janelas e portas? Todas fechadas antes do cair da noite. Se eu esqueço uma delas pode ter certeza de que serei visitado por toda a comunidade brasileira de lagartixas no dia seguinte.

Como meu nível de TOC chega ao ponto de dormir na sala quando vejo uma no quarto, encerrarei esse post, que só teve esse tema porque acho que vi algo se mexendo na cortina. E certamente vai me tirar umas boas horas de sono se eu não descobrir o que é.