É impossível negar. Boa parte daquilo que somos e fazemos nos foi apresentado por um familiar ou alguém que marcou nossa vida permanentemente. É comum ver filhos de médicos seguindo a profissão de seus pais ou engenheiros que só fizeram de suas carreiras algo perfeito, pois foram influenciados por um avô construtor. Ou ainda aqueles que tiveram em alguém representativo o espelho de suas vidas.
Sou professor de matemática por natureza. Mesmo tendo
cursado engenharia, nunca coloquei uma gravata e nem entrei em uma fábrica sequer.
Desde cedo minha vocação foi para as aulas. Lecionar tornou-se um hábito e,
posteriormente, uma maravilhosa profissão.
Porém, a descoberta de sua vocação só acontece se
algo realmente importante em sua vida acontecer. E aconteceu comigo, no início
dos anos 90.
Recém chegado ao colegial (hoje Ensino Médio),
matriculado no curso técnico em eletrônica, não sabia por onde começar. Na
primeira semana um milhão de aulas e professores novos. Manhã e tarde. Um
desespero.
E eu, que sempre fui um ótimo aluno em exatas, estava
perdido. Em matemática! Era assustador. Conjuntos, união, intersecção, equações
etc. tudo me parecia impossível. Foi aí que aconteceu.
A troca do professor na primeira semana de aulas por
um senhor de olhos azuis me levou a ser o que sou. Seu nome: Carlos Alberto Bonora. Seu jeito único
de lecionar, de fazer tudo aquilo que nos parecia insano tornar-se pelo menos
aceitável, deu um norte para aquele bando de garotos de 15 anos.
Se não fosse pelo seu jeito tranquilo e seguro de
explicar, de enfrentar todo o desespero com paciência, por suas histórias da
vida e da matemática, não teríamos conseguido. Seu brilho nos olhos nos fazia a
cada dia seguirmos, nunca nos deixaria desistir.
Lembro-me até hoje de suas provas em tardes
ensolaradas. Sua insistência para que eu conseguisse me deixou em uma delas até
o final do período de aulas, e se não fosse por isso, certamente teria perdido
o rumo e o ano. Não foi à toa que escolhi meu caminho.
Esses dias tenho lembrado muito daqueles momentos. Até
havia separado um tempo para visitar meu velho colégio. Queria ver se ainda
existem Carlos Bonoras por lá, se os
alunos ainda estão estudando nas velhas apostilas. Mas depois desisti, preferi
guardar as poucas lembranças, porém sinceras, de 1992.
E como é bom ver, pelo meu décimo quinto ano de
profissão, que meus alunos ainda têm o mesmo brilho nos olhos que eu tinha
naquela época. E que ainda me vejo naqueles rostos juvenis, que terão a vida
inteira pela frente, como médicos, engenheiros, jornalistas, e por que não,
professores de matemática.
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