- Acorde, é hora de morrer!
Incrível como algumas frases são marcantes na vida de
uma criança. Com 9 anos, ouvi exatamente essa frase na chamada do filme que se
tornou meu favorito: Blade Runner.
Mas minha história com o filme de Ridley Scott
começaria apenas 5 anos depois. Não era comum no final dos anos 80 o acesso a
tanta tecnologia. Vivíamos em um tempo em que era complicado ter até um vídeo
cassete.
Enfim em 1989 consegui, numa das noites épicas na
casa do Mauricio, vê-lo. Em preto e branco, vale ressaltar! Aquela fita de
vídeo com a exibição da Globo – incluindo os comerciais – mudou pra sempre meu
conceito sobre o cinema.
Qual a graça de um filme que se passa em 2019 e tem
um ex-policial que caça androides ou replicantes
– pessoas idênticas aos humanos, mas criadas em laboratório? Talvez todo o
jeito peculiar com que foram retratados os personagens, o tempo que passava
diferente, a fotografia da cidade retrofit,
degradada pelo excesso de tecnologia. E a chuva, que sempre me apaixona, durante
quase toda a história.
E Harrison Ford era o protagonista! O cara que fez o
Han Solo estava brilhante na pele de Dick Deckard (na minha opinião, é seu
melhor papel), envolvido em uma trama que era, na verdade, uma história de
amor. A cena do início, que dá um panorama da cidade cinza com as pessoas comendo
macarrão, é algo que ainda me fascina.
Se não bastassem todos os atributos, o diretor foi
cirúrgico na escolha da trilha. Vangelis deu todo o ar daquele local futurista,
mas que continha as mesmas emoções, dificuldades e angústias do ser vivo, replicante ou não.
Ao passar por Tóquio, em dezembro, foi incrível a
sensação. Milhões de propagandas nas ruas, milhares de pessoas andando e
falando ao mesmo tempo. E a chuva da noite... Tinha desembarcado em 2019!
Hoje, nesse fim de tarde cinza escuro, com uma chuva
fininha e intermitente, lembrei-me de Deckard e de todos os seus sentimentos e
a nostalgia dos filmes Cult, algo que
infelizmente não voltam mais. E a frase do começo do vídeo abaixo que não me
sai da cabeça...
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