Amigo leitor, ainda não comentei sobre esse
segmento da minha vida, mas além de empresário também sou professor de
matemática. E esses 15 anos de profissão têm sido deliciosos, lecionar é
realmente algo fascinante, porém às vezes nos produzem situações além da
imaginação.
Em 1999 passei por todos os crivos até me tornar
professor de cursinho. E a parte mais rasa do caminho é o plantão de dúvidas.
Até que no começo de carreira, quando se está na faculdade precisando de uns
trocados, é legal, conhecemos muita gente e – isso tenho que reconhecer –
aprende-se muito.
O grande problema é que depois de algum tempo
(curto), nos tornamos apenas alguém com uma capacidade incrível... De decorar
exercícios! Principalmente porque em um dia de plantão resolvemos o mesmo
exercício centenas de vezes.
E acho que foi nessa época que aconteceu o episódio
mais surreal da história. Segunda-feira chuvosa, de uma manhã com prova na
faculdade. Quando se acha que o pior pode ser o atraso para o trabalho, o prego
no pneu nos dá a certeza de que aquele dia não terminaria bem.
Uma hora pra trocar. Claro que havia saído de roupa
clara, senão qual a graça? Cheguei duas horas atrasado, todo sujo e morrendo de
fome (note que para um gordo isso é absolutamente relevante). Mesmo assim lavei
as mãos, respirei fundo e sentei, sabia que a fila me aguardava.
Meu primeiro algoz do dia. Um rapazinho louro cheio
de espinhas, acompanhado de umas amiguinhas jogou seu livro sobre a minha mesa
e bradou:
- Faz esse exercício
31 aí!
Confesso que devia ter deixado passar, mas não deu:
- Você não
sabe dizer boa tarde?
- Faz logo,
que eu estou pagando.
Quando se está no fundo do poço, qualquer atitude
pior já não fará mais efeito. E como eu já estava lá mesmo, achei que era hora
de manter minha dignidade:
- Amigo,
quanto seu pai paga de mensalidade?
Apesar de contrariado, o aprendiz de insuportável
respondeu. Por alguns minutos me controlei, expliquei calmamente quantos
funcionários havia na empresa, fiz algumas estimativas de gastos da escola
(completamente erradas), mais algumas contas e finalmente:
- Sua
contribuição no meu salário deve ser de aproximadamente 1 real.
A única coisa boa daquele dia era aquela nota de 1 no
bolso de minha calça creme suja de graxa. Não tive dúvida:
- Tome. Pode
ir embora!
Ainda existia nota de uma real?
ResponderExcluirOpa! Foi feita até 2005, e eu ainda tenho uma! Abraço irmão!
Excluir