Quando se é filho único, sua infância é um pouco
diferente da tradicional. Não é sempre que temos alguém todo o tempo em casa,
como aconteceria na presença de um irmão. Quando ouço histórias de irmãos
geralmente acho muito interessante, pois é algo que nunca vi na vida.
Mas não é isso que impede que sua infância seja cheia
de histórias e lembranças. Como meu pai sempre trabalhou em casa – ele é
alfaiate – muitas das peripécias que aprontei tive o Babi do meu lado.
Essa semana, ao procurar um livro no meu armário,
encontrei minha coleção de jogos de botão. E vê-los há quase 20 anos sem uso me
trouxeram um misto de nostalgia e alegria ao saber que esse divertimento
atravessou minha infância e boa parte da adolescência.
Jogar botão era o meu divertimento favorito há 25
anos. E talvez tenha se tornado o predileto porque também foi o de meu pai
quando criança. Suas histórias de como criar os botões com vidro de relógio e
botões de paletó eram fascinantes. E, em meados dos anos 80, uma vez ele me trouxe
dois jogos novinhos, comprados na feira de domingo. Pronto, paixão instantânea.
O futebol de mesa virou uma febre da infância.
Comecei a colecionar os times, os botões que comprava já não eram os da feira,
e sim algo mais oficial. É claro que tinham os preferidos, os que davam sorte,
e os que não gostávamos. Organizar campeonatos era a minha parte favorita,
todas aquelas tabelas talvez tenham me levado, mesmo que inconscientemente, à carreira
de exatas.
O mais interessante, porém, é que recordo com mais
saudades dos fatos que antecediam os clássicos do futebol de mesa. Como meu pai
sempre trabalhou até tarde, os encontros futebolísticos aconteciam aos sábados,
dia que ele encerrava suas atividades mais cedo. E eu, como desesperado que
sempre fui, desde o final da tarde já organizava todos os botões do dia,
limpava o campo, separava as tabelas e fazia as estatísticas da rodada
anterior.
Lembro que ficávamos sentados em seu quarto de
costura conversando sobre todos os assuntos, desde o Corinthians até as
noticias que ele ouvia – e ainda ouve – em seu rádio Motoradio que quase sempre
o acompanhou (agora ele tem um novinho que veio do Japão).
Com o passar dos anos os botões ficaram pra trás,
empoeirados, ásperos, sem vida. Talvez minhas conversas com o Babi também tenham ficado menos frequentes,
e um pouco empoeiradas. E como hoje é sábado já me decidi. Talvez não haja
jogo, mas vai ser uma delícia levar aquela caixa cheia de botões e sonhos
infantis pra seu quarto de costura, deixar tudo preparado, ouvir seu rádio
novo, as contratações do futebol, e principalmente, seus conselhos preciosos e
ponderados que me fizeram, de maneira muito eficiente, o homem de hoje.
Essas recordações da infância são uma delícia, né?
ResponderExcluirEssa do futebol de botão é uma das melhores da minha infância Paty!
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