Ter manias não é simplesmente algo que acontece. Geralmente
temos noção do que estamos fazendo, e culpa também. Mas a vontade de mudar
aparece somente quando a situação nos aperta.
Por algum motivo guardava caixas de papelão. Som, DVD,
vídeo game, celular, minha preocupação nunca foi como manusear o produto novo
ou onde colocá-los e sim, onde irei guardar a caixa? Cheguei em um nível que
abri-las já era motivo de sofrimento, pois onde já se viu rasgar o plástico que
as envolve? Mas eu tinha um argumento (não significa que era válido):
- Se eu precisar vender os produtos, ainda tenho a
caixa. Será uma supervalorização.
Agora fundo do poço aconteceu com a minha coleção de
CDs. Até o lançamento do iTunes, a aquisição de discos era algo muito mais
visual do que musical. Os chamados boxsets, edições especiais com encartes
enormes, quase um livro, vinham em lindas caixas de papelão. Então, pra que
abrir algo tão exclusivo?
A situação precisou chegar ao limite. E foi graças a
ele que meu apego acabou.
Viagem de compras. Sou descontrolado e entupi 3
malas, fora as coisas que tive de deixar, pois não cabiam mais...Tive de me
livrar à força das caixas, seria um volume muito grande carregá-las.
Obviamente fui parado na alfândega, e graças à ausência
de caixas me livrei de muitos transtornos. Lembro da cena surreal: uma mulher
abrindo suas malas e todos os seus eletrônicos com caixa caindo pelo balcão ao
lado. O olhar do auditor me lembrou o Discovery Channel: o ataque do guepardo
ao cervo indefeso.
Me livrar daquele sufoco felizmente me curou.
E foi uma alegria tão grande na viagem seguinte poder
rasgar todos os papelões e jogar no lixo. Ao chegar em casa adorei repetir o
ritual. Tomei uma decisão especial ao ver aquele monte de papelão de duas cores
indo embora: a partir daquele momento, apego... só pra vida e pra quem faz com
que ela seja especial, a cada dia.
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