Estudou. Arduamente durante dois anos. Estava naquela
faculdade de administração que tanto sonhou. Seus avós deram o kit faculdade, lápis, cadernos e bolsa
novinha para os estudos do rapaz. Tudo desperdiçado, teve que fazer uma doação espontânea
de suas coisas aos veteranos, bem como seu cabelo, suas roupas novas que foram
manchadas de tinta. Uma desgraça. Ouviu de um veterano: - Calma, tudo vai
piorar. Achava que não.
Quarta feira, primeiro dia. Assunto: cálculo 1. Pra
piorar a situação pegou o mais temido dos professores, o Lasanha. Ninguém sabia
a origem do apelido, mas suas camisas xadrezes surradas e apertadas, sua cara
redonda e rosa por algum motivo remetiam à massa fresca.
Da série não se sabe por que aconteceu: a 20 minutos
do fim da aula (tudo o que o rapaz havia entendido daquele monte de números foi
a data que o professor colocou no quadro), chega um rapaz sem nenhum material,
pede-lhe uma folha emprestada, pede uma caneta à menina do lado, escreve 3
linhas de qualquer coisa da aula e vai embora. Por algum motivo, ficou amigo de
figura tão pitoresca, que se vestia sempre da mesma forma, bermudas, camiseta
surrada e sandálias havaianas vermelhas. Seu apelido era único: chinelo.
Teorias de chinelo:
- Não se
preocupe com as 2 primeiras provas, nem as faça. Basta tirar 10 na última prova
que você será aprovado.
Seguiu estudando, achou melhor. Vieram as provas. Seu
0,3 na primeira e 1,2 na segunda denunciavam que a coisa não ia bem. Mas o
discurso do rapaz das sandálias havaianas era firme: - Tire 10 na última prova
que você vai passar!
E veio a terceira prova. 200 alunos desesperados para
tentar algo na matéria do Lasanha. Chegou um pouco atrasado e sentou-se na
última carteira, ao lado do chinelo. Sentiu que estava fazendo uma prova de
sânscrito ou aramaico, não tinha nenhuma condição, mas resistiu bravamente até
o final. Aliás, é fácil de imaginar o tumulto que foi quando o professor
solicitou a entrega das provas no final desse período.
Aproveitando a confusão, o cidadão do chinelo de dedo
sai tranquilamente pela porta dos fundos sem passar pelo momento da entrega. O
rapaz percebeu a saída à francesa do colega, mas, imaginava que com prova tão
difícil, não fazia diferença entregar ou não.
Semana seguinte estava lá o rapaz, esperando algum
tipo de redenção. Estranhamente com o chinelo na primeira carteira da aula do Lasanha:
- Vou entregar as notas. Tivemos um índice de 70% de
reprovação. Em ordem, chamarei os nomes.
Pegou sua prova. Seu 0,1 era a certeza do fracasso.
Ao final da aula, vem a pergunta do descalçado:
- Professor, e a minha nota?
- O senhor não fez nenhuma prova, está
automaticamente reprovado.
- Como assim professor, perdeu a minha prova?
- Não amigo. Não tenha vergonha em dizer que não fez
as provas, semestre que vem o senhor refaz a matéria.
Após a discussão dos dois e a insistência de que o
aluno havia feito a prova, surge a pergunta do professor:
- Quem me garante que você fez prova?
- Professor, basta olhar a lista de presença!
O Lasanha derreteu. Procurou 3 semanas essa prova loucamente,
sem sucesso (nunca ia achar). E no final daquele semestre sobraram dois
comentários diferentes. O do professor ao chinelo:
- Achei sua prova, mas não a tenho aqui. O senhor
tirou 10 e foi aprovado no meu curso.
E o do rapaz a seus pais:
- Nunca devia ter ouvido vovô e vovó...
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