Não sou um atleta. Até que em 1999 eu estava em
forma, mas nunca fui daqueles que trocavam um bife à parmegiana por uma salada,
nem fazia da hora de almoço uma hora de academia.
Sou alucinado pelo futebol, mas definitivamente a
prática sempre foi algo trágico. Desde criança eu era o garoto que ia arrancar
a tampa do dedão, ou chutar a bola na casa da vizinha. Vidro então, quebrei
todos da rua.
Mas, por algum motivo, acreditei que na faculdade
fosse realmente dar certo. Talvez pelas peladas de sexta-feira à tarde, ou pelas
qualidades futebolísticas dos amigos, em especial um deles.
Marcelo Burani, o Suza - ele é de Suzano - tornou-se um de meus grandes amigos da
faculdade e da vida. Seu jeito ponderado de encarar as coisas é uma virtude
que, reconheço, ainda não consegui adquirir. Hoje em dia, trabalhamos juntos, e
ainda é comum eu explodir em algumas atitudes e ouvir dele apenas uma palavra:
- Calma.
No futebol não era diferente. Sua colocação em
campo, a cabeça erguida e os passes de primeira eram o diferencial daquele time
do 3º ano. O título do campeonato entre as diferentes turmas da engenharia
química, a Taça Carabina, seria maior
que qualquer título mundial. E eu seria o goleiro!
Muitos conselhos ouvi do Suza. Postura, nada de
afobação pra se jogar nas bolas, calma. Dedicamos nosso tempo livre aos
treinos, marcamos 2 jogos amistosos e ganhamos. Ninguém nos tiraria aquele
campeonato.
E veio o primeiro domingo de maio, a estreia. Aquela
quadra de futebol society era meu Maracanã. Todas as atenções pro clássico
contra o 5º ano.
Se Osmar Santos estivesse ali:
- Apita o
árbitro, começa a competição mais importante do futebol mundial!
Só que não. Primeira bola, corre pela lateral um
dos trogloditas do 5º ano. Talvez ele nem chutasse, mas mesmo com dois zagueiros
do nosso time na bola, saí como um louco desesperado até quase no meio do
campo. Aquela deslizada com a perna pra cima, os gritos e a bola grudada na
grade ainda me arrepiam. Dois minutos de jogo e eu estava expulso.
Aquele dia, pela primeira vez, o Suza olhou pra mim,
mas não disse nada. Tenho certeza que foi melhor. E frente à certeza de que
perderíamos o campeonato mais ganho da faculdade, ir embora e encerrar minha carreira
futebolística pra sempre foi definitivamente minha única decisão acertada
daquele dia.
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