terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Histórias da Carabina



Não sou um atleta. Até que em 1999 eu estava em forma, mas nunca fui daqueles que trocavam um bife à parmegiana por uma salada, nem fazia da hora de almoço uma hora de academia.

Sou alucinado pelo futebol, mas definitivamente a prática sempre foi algo trágico. Desde criança eu era o garoto que ia arrancar a tampa do dedão, ou chutar a bola na casa da vizinha. Vidro então, quebrei todos da rua.

Mas, por algum motivo, acreditei que na faculdade fosse realmente dar certo. Talvez pelas peladas de sexta-feira à tarde, ou pelas qualidades futebolísticas dos amigos, em especial um deles.

Marcelo Burani, o Suza - ele é de Suzano - tornou-se um de meus grandes amigos da faculdade e da vida. Seu jeito ponderado de encarar as coisas é uma virtude que, reconheço, ainda não consegui adquirir. Hoje em dia, trabalhamos juntos, e ainda é comum eu explodir em algumas atitudes e ouvir dele apenas uma palavra:
- Calma.

No futebol não era diferente. Sua colocação em campo, a cabeça erguida e os passes de primeira eram o diferencial daquele time do 3º ano. O título do campeonato entre as diferentes turmas da engenharia química, a Taça Carabina, seria maior que qualquer título mundial. E eu seria o goleiro!

Muitos conselhos ouvi do Suza. Postura, nada de afobação pra se jogar nas bolas, calma. Dedicamos nosso tempo livre aos treinos, marcamos 2 jogos amistosos e ganhamos. Ninguém nos tiraria aquele campeonato.

E veio o primeiro domingo de maio, a estreia. Aquela quadra de futebol society era meu Maracanã. Todas as atenções pro clássico contra o 5º ano.

Se Osmar Santos estivesse ali:
- Apita o árbitro, começa a competição mais importante do futebol mundial!

Só que não. Primeira bola, corre pela lateral um dos trogloditas do 5º ano. Talvez ele nem chutasse, mas mesmo com dois zagueiros do nosso time na bola, saí como um louco desesperado até quase no meio do campo. Aquela deslizada com a perna pra cima, os gritos e a bola grudada na grade ainda me arrepiam. Dois minutos de jogo e eu estava expulso.

Aquele dia, pela primeira vez, o Suza olhou pra mim, mas não disse nada. Tenho certeza que foi melhor. E frente à certeza de que perderíamos o campeonato mais ganho da faculdade, ir embora e encerrar minha carreira futebolística pra sempre foi definitivamente minha única decisão acertada daquele dia.

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