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Foto: Amanda Duarte |
Quando somos crianças, temos os objetivos mais
estranhos na vida: sermos bombeiros, super-heróis, astronautas ou pilotos de
corrida. Com o passar dos anos, o início da adolescência vai mudando nossos
rumos.
Por volta dos 12 anos, decidiremos ser médicos, se
virmos um daqueles cirurgiões realizando uma super operação. Talvez um
jornalista, logo na semana seguinte, caso apareça algum que dê aquela notícia
emocionante na televisão; ou qualquer outra profissão que esteja em nossa
cabeça naquele momento. Eu ouvi desde menino:
- Sabe que você leva jeito
pra ser professor?
Essas palavras - que vieram pela primeira vez de
minha professora do ginásio - talvez tenham trilhado o caminho da minha vida.
Logo que saí do ensino médio, arrumei como um
passatempo - no próprio colégio em que eu estudava - algumas aulas de reforço,
que acabaram virando um curso de revisão durante quase todo o ano seguinte.
Depois da frustração de não ingressar no curso de
jornalismo, o tom do meu segundo ano de cursinho foi inteiramente de ajuda aos
amigos que tinham dificuldades em exatas. Essas tardes, que foram mais de
aprendizado do que de explicações, me levaram ao curso de engenharia química,
naquele mesmo ano.
E talvez por mais um dos caprichos do acaso,
tornei-me amigo de um rapaz que era plantonista do cursinho em que havíamos
estudado:
- Você leva jeito para ser
professor de cursinho. Vamos tentar?
Após a entrevista, descobri que só poderia ser
contratado quando houvesse vagas, e talvez isso não acontecesse tão prontamente. Ao
passar pela saída da sala dos professores, convencido de que talvez meu futuro não
estivesse lá, encontrei meu ex- professor e supervisor da cadeira de
matemática:
- Olá! Veio nos visitar?
- Vim tentar uma vaga no
plantão de química, mas não há disponíveis.
- Você não quer trabalhar na
matemática? Estamos precisando.
Ao resolver uma prova naquela mesma hora, e
apresentar uma aula teste na semana seguinte, em 1998 deixei de ser o
“Marquinhos”, conhecido pelos amigos da faculdade, e me tornei Prof. Vinicius.
E após alguns poucos anos de plantão de dúvidas, ouvi
desse mesmo chefe que eu levava jeito para lecionar nas salas do curso, e que
eu substituiria um professor que estava doente naquele semestre. Esse caminho
me deixou por mais 10 anos como professor de lá.
Em 2005 minhas atenções e meu coração seriam divididos
entre dois lugares. Meu novo emprego, em um colégio e cursinho com pouquíssimos
alunos, totalmente acolhedores, me cativou definitivamente. E em 2008 fiz minha
escolha. Uma das melhores da minha vida, felizmente.
Nove anos depois: novos rumos surgiram, mas meu coração fez com que fosse impossível deixar de fazer aquilo que amo. Agora em novos lugares, com muitos amigos e pessoas que sempre acreditaram, assim como eu, que colocamos nosso coração em cada frase ou equação escrita em uma lousa.
E assim deixei pra trás minha carreira (realizada ou
não) de piloto de avião, jornalista, empresário e engenheiro químico. Porém, a
cada sorriso de um estudante na sala de aula, ou mesmo um simples telefonema de
um ex-aluno dizendo que foi aprovado para uma vaga numa empresa multinacional,
e que se lembrou de várias coisas que eu dissera a ele, na entrevista, tenho
certeza de que valeu a pena seguir.
Talvez eu até leve jeito...