segunda-feira, 1 de julho de 2013

Cartas para Marina


Foi apenas um encontro. Intenso. Pra vida toda. Os que se seguiram foram hesitantes, medrosos, contrariados. Algo os afastava, mas ao mesmo tempo mostrava que não era isso que deveria acontecer.

Tentaram, não conseguiram. Por mais que ele quisesse, rendeu-se ao medo. Fez questão de esquecer o telefone dela, mudou o número do seu. Fez força para recomeçar, percebeu que o silêncio das madrugadas o deixava calmo. Tornou-se uma pessoa quieta e introvertida, seus dias passavam mais rápido desse jeito.

Depois de algum tempo e um turbilhão de dúvidas escreveu um e-mail. No título: “Cartas para Marina”, mostrou alguma intenção de pelo menos mandar alguma notícia de sua vida de vez em quando. Não teve resposta.

Pelo menos lhe fez bem escrever. Desejou-lhe feliz aniversário, no ano seguinte de novo, e nos cinco anos seguintes que se passaram. Contou da morte de seu cachorro, de seu retiro no Tibet, da perspectiva diferente que havia adquirido da vida. Explicou-lhe como havia um método filosófico que o deixara mais paciente e tolerante. Nenhum sinal.

Tentou prever suas ações: sua formatura na faculdade, seu casamento, o ambiente de trabalho, o apartamento que um dia sonharam em ter, onde ela sempre quis esperá-lo no sofá na volta do trabalho. Dias e mais dias sem nada.

Contou que havia voltado, que ainda estava sozinho. Explicou-lhe (como sempre fazia) que amor nunca acabava, e que uma vez que ele passa, findam-se as chances de ser feliz por inteiro. Deixou claro que ainda fazia planos, mesmo depois de tanto tempo. A essa altura já não tinha quase nenhuma esperança de que ela recebesse suas cartas. Era quase que uma espécie de diário, que era enviado para algum lugar do passado.

E depois de várias tentativas, um dia finalmente assinou a carta como última, reafirmou tudo o que havia dito em todas as outras, manteve a promessa de protegê-la, e a esperança de que tudo que os afastava era fraco, perto do que podia uni-los. Terminou com um até logo, mesmo que soubesse que aquilo era um adeus. Fechou suas publicações para sempre.

Mas um dia alguém bateu. Ele não reconheceu a princípio a moça de cabelo mais curto e louro. Apenas percebeu quando viu o mesmo olhar que o fascinou e nunca saiu de sua cabeça. No meio daquele bolo de cartas impressas apenas uma frase vinda da moça:

- Só trouxe as cartas e mais nada. Mas a história de nossa vida você já escreveu. Chegou a hora de segui-la.



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