Foi apenas um encontro. Intenso. Pra vida
toda. Os que se seguiram foram hesitantes, medrosos, contrariados. Algo os
afastava, mas ao mesmo tempo mostrava que não era isso que deveria acontecer.
Tentaram, não conseguiram. Por mais que ele quisesse,
rendeu-se ao medo. Fez questão de esquecer o telefone dela, mudou o número do
seu. Fez força para recomeçar, percebeu que o silêncio das madrugadas o deixava
calmo. Tornou-se uma pessoa quieta e introvertida, seus dias passavam mais
rápido desse jeito.
Depois de algum tempo e um turbilhão de dúvidas
escreveu um e-mail. No título: “Cartas para Marina”, mostrou alguma intenção de
pelo menos mandar alguma notícia de sua vida de vez em quando. Não teve
resposta.
Pelo menos lhe fez bem escrever. Desejou-lhe feliz
aniversário, no ano seguinte de novo, e nos cinco anos seguintes que se
passaram. Contou da morte de seu cachorro, de seu retiro no Tibet, da
perspectiva diferente que havia adquirido da vida. Explicou-lhe como havia um
método filosófico que o deixara mais paciente e tolerante. Nenhum sinal.
Tentou prever suas ações: sua formatura na faculdade,
seu casamento, o ambiente de trabalho, o apartamento que um dia sonharam em
ter, onde ela sempre quis esperá-lo no sofá na volta do trabalho. Dias e mais
dias sem nada.
Contou que havia voltado, que ainda estava sozinho.
Explicou-lhe (como sempre fazia) que amor nunca acabava, e que uma vez que ele
passa, findam-se as chances de ser feliz por inteiro. Deixou claro que ainda
fazia planos, mesmo depois de tanto tempo. A essa altura já não tinha quase nenhuma
esperança de que ela recebesse suas cartas. Era quase que uma espécie de diário,
que era enviado para algum lugar do passado.
E depois de várias tentativas, um dia finalmente
assinou a carta como última, reafirmou tudo o que havia dito em todas as
outras, manteve a promessa de protegê-la, e a esperança de que tudo que os
afastava era fraco, perto do que podia uni-los. Terminou com um até logo, mesmo
que soubesse que aquilo era um adeus. Fechou suas publicações para sempre.
Mas um dia alguém bateu. Ele não reconheceu a princípio
a moça de cabelo mais curto e louro. Apenas percebeu quando viu o mesmo olhar
que o fascinou e nunca saiu de sua cabeça. No meio daquele bolo de cartas
impressas apenas uma frase vinda da moça:
- Só trouxe as cartas e mais nada. Mas a história de
nossa vida você já escreveu. Chegou a hora de segui-la.
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