Ele não queria ter ficado triste. Sabia que, se ele chorasse, seu sentimento de culpa iria adentrar àquela casa e ia ser difícil sair.
Estava disposto a ficar acordado até o dia seguinte só pra se lembrar. À luz acesa, pensou no filme que estava passando, e que já havia assistido com ela. Adoravam filmes ruins na madrugada. Também teve vontade de chorar, mas se segurou. Dormiu segurando o controle remoto nas mãos.
Naquela manhã levantou e nem fez o café, pois sabia que ficaria aguado como sua vida atual. Queria mesmo era falar pra ela sobre aquilo que viveu, de suas músicas favoritas, e de tudo que ele agora amava. Seria capaz de passar aquela tarde chuvosa contando sobre cada banda que ele adorava. Sabia que suas histórias iam fazê-la rir, e ele amava aquele sorriso.
Queria ter falado pra ela passar o fim de semana, e que ela tivesse aceitado. Acordariam juntos, iriam ao parque, receberiam amigos queridos para o almoço, conversariam de tudo e fariam com que o dia fosse inesquecível. E no fim da noite, de maneira mais inesperada, teria pedido sua mão em casamento.
Queria pedir pra ela cantar antes de dormir. Apenas ficou imaginando qual música ela escolheria pra ele. E resolveu ficar ouvindo-a, sem parar.
Sentia que aqueles olhos grandes perturbavam-lhe, às vezes. Sua pele macia era como um novelo de lã, daqueles bem felpudos com que os gatos ficam brincando. E o cheiro? Ele amava sentir aquele perfume.
Teriam passado a vida juntos naquela casa, pra sempre. E seriam muito felizes.
Se ao menos por um único dia ela tivesse estado lá.
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