Quem
me conhece sabe que os laços que tenho com as pessoas que gosto é sempre
estreito e passional. Isso não é diferente com a minha família. Ainda mais
porque sou filho único, e sempre fui muito próximo de meus pais.
Esse
tipo de convivência meio que me manteve blindado de algumas situações. A morte
foi uma delas. Sendo sincero, sempre tentei me manter bem longe desses
acontecimentos. Tinha convivido no máximo com um velório na vida, acontecimento
inevitável, estranho e difícil de entender.
Por
sorte qualquer situação desagradável da vida sempre se resolveu em uma boa
conversa com meu pai. Sua calma, seu jeito positivo e confiante de pensar nas
coisas, sempre transformou problemas em soluções.
Essa companhia passou por toda a minha infância e adolescência. Por quase 30 anos
estivemos apenas à uma porta de distância. Ele, em seu quarto de costura, mesmo
que ocupadíssimo com seus ternos de casamento, estava sempre atento à família,
às nossas complicações e loucuras da vida. Sem perder nada das notícias do
mundo, que formavam suas opiniões calmas e sinceras.
Foi
por causa dele que deixei de ser flamenguista, aos 5 anos, e me tornei
corintiano, pois "era melhor escolher um time de São Paulo para irmos aos
jogos". Foi com essa calma e com um "é o que você gosta" que me
tornei professor ao invés de engenheiro, mesmo sabendo os prós e contras da
profissão. E foi sempre com uma tranquilidade ímpar que ele me ajudou a
enfrentar vários desafios.
E
sim, como grande pai, ele nunca me julgou. Respeitou e ajudou para que eu
contornasse todos os problemas, todos os grandes erros da minha vida; pensou em
primeiro lugar no meu bem estar, mesmo que isso deixasse sua tranquilidade de
lado.
O
ápice desse zelo foi o Sr. Etevaldo não ter deixado a gente perceber que ele não
andava bem de saúde. Muito embora percebêssemos que suas costas já se curvavam,
sua pele enrugara e os cabelos raleavam-se, ele continuava sendo o mesmo super
herói de sempre.
Foi
o que aconteceu quando ele me viu cuidar da saúde, com a corrida diária e com a
dieta. Em nossa penúltima conversa, no parque, depois de um treino, meu pai fez
quase uma previsão de como as coisas seriam no futuro. Como eu deveria suportar
uma mudança de foco, e que talvez o círculo da vida me levasse de volta aos
objetivos antigos, porém agora de uma maneira mais dura. Manteve sua postura e
disse que o importante era que tivéssemos força para cumprir todos os
objetivos.
Conversamos
mais uma vez, e nos despedimos. Fui viajar. Acho que ele sabia que sua hora
tinha chegado. Em 6 dias meu pai adoeceu, foi para o hospital, voltou para casa
e morreu. E provavelmente ele fez questão de que eu não soubesse seu real
estado de saúde, para que isso não prejudicasse os meus objetivos. Babi - foi
assim que eu o chamei a vida inteira - nos deixou no dia 24 de janeiro, e mesmo
dos céus deu um jeito para que eu conseguisse voltar antes do funeral.
Hoje
ao entrar em seu quarto de costura, vi, em um canto, seu pano de forrar o
balcão, onde ele cortava seus paletós, milhares que ele fez nessa vida. Lembrei
exatamente de uma passagem da vida, quando, nos meus 11 anos de idade, ele saiu
para fazer uma cirurgia e ficou 3 dias fora. Foi impossível não sentir-se uma
criança, porém naquela época tinha o conforto de saber que ele estaria de
volta.
Agora
nem sua máquina e nem ele estavam mais lá. E nem mais o seu "alô"
quando eu discar "casa" de meu celular, muito menos o seu "Vai
com Deus", frase que eu sempre ouvi antes de sair para qualquer lugar do
mundo. Por sorte, e acho que porque você sempre pensou em mim antes de qualquer
coisa, essas foram as últimas palavras que ouvi de você, meu melhor amigo.
Te
amo meu pai.
Maravilhoso!
ResponderExcluirObrigado Júlia! Ele foi meu melhor amigo de uma vida inteira, e ainda me deixa com muitas saudades... Beijo a você
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