terça-feira, 4 de março de 2014

Smile


O alarme tocou. O horário era diferente daquele que ele estava acostumado a acordar. O lugar era outro, a noite tinha sido terrível. Em seu pensamento apenas uma certeza: ao abrir os olhos não saberia qual seria seu destino, nem o que enfrentaria naquele dia. Sua vontade era apenas de tornar-se invisível, quando precisasse.

Seu grande medo era não encontrar mais aquilo que deveria. Sabia que ia acontecer. As lágrimas iminentes, o medo e a tristeza enlatados, agora tomavam forma e faziam-se presentes como o sol que insistia em incomodar seu despertar, pela fresta da cortina.

Na falta de esperança arriscou abrir os olhos. Lembrou-se do sorriso mais lindo que já tinha visto. Procurou-o em uma foto e encontrou. Um alento. Instantaneamente sentia o alívio da lembrança dos momentos mais felizes que já passara: um dia de chuva no rosto, um prato de arroz fresco, um beijo de reencontro, o acordar de um sonho ruim.

A ausência de chão já não era tão presente. Percebeu que iria sobreviver. Notou que a vida é e sempre será boa, apesar de tudo, que os momentos de dor irão transformar-se em saudades, que o arrependimento faz crescer, e que a vida passa tão rápido, quase como o açúcar que se dissolve em um copo d’água.

Pensou nos domingos de outono que o deixavam tão feliz, e que vale sempre a pena continuar tentando, que é possível sorrir mesmo que o momento não seja bom, e que substituir a culpa pelo amor e um gesto rude por um carinho sempre será melhor, mesmo que não haja retribuição.

Descobriu que não precisava mais olhar pra trás. A partir de agora estaria menos cego, mais cansado, menos poderoso. Em compensação sentia-se mais amparado. Não iria chorar, nem gritar, nem falhar. Apenas cuidaria para que as pessoas certas, de quem ama, estivessem ao seu redor.

A vida seguiu.  E teve certeza de quem mudava seu dia quando leu a resposta da mensagem daquela manhã:

- Temos um sorriso pra hoje?
- Sim, sempre!



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