Quando somos crianças, escolhemos alguns “heróis”. A
primeira escolha é sempre pelos pais. Porém na maioria das vezes elegemos
também alguma outra pessoa próxima como exemplo de vida, em nossa fase
criança/adolescência.
Meu primo Marcelo foi um deles, e um dos mais
especiais. Talvez pelo fato de ser 11 anos mais velho do que eu, o que para uma
criança de 9 ou 10 anos é algo realmente fascinante. Afinal, fazer coisas de
“velho” é aquilo que tudo que uma criança quer nessa idade.
O cara era realmente diferente. Primeiro que sempre
levava um sorriso no rosto (e não falo isso apenas como um clichê, era
realmente verdade). Acho que nunca o vi de cara fechada, nem em momentos de
dificuldade. Incrível como uma simples música no rádio do carro em um passeio
podia tornar-se uma festa.
Essa vontade de ser feliz era tão contagiante que era
quase impossível não sorrir. E, quando isso não acontecia, seu esforço era
grande pra não nos deixar abatidos ou tristes. Desde um presente de sua coleção
pessoal de chaveiros até uma ida a Santos apenas para tomar uma banana split
(ou duas...).
Conversávamos sobre os filmes da época, que na
maioria das vezes viravam uma explicação e uma discussão intensa sobre as
pessoas e a vida em geral, sobre as milhares de idéias que queria executar,
sobre a carreira que eu deveria seguir (meu curso de engenharia deve-se muito a
isso...) e tudo aquilo que deveríamos seguir para ser feliz.
Acho que o momento mais engraçado dessa convivência
foi na época de sua candidatura a vereador, em sua cidade natal, Ribeirão
Pires. Não consegui até hoje esquecer o carro da campanha, o mais podre do
mundo, das pessoas que reclamavam e ele retribuía com um sorriso, e do dia da
eleição, quando passamos o dia entregando panfletos e a noite no ginásio de
esportes apurando os votos...
E como ele fazia tudo o que queria (talvez você
conheça alguém assim...), em 1990 tornou-se piloto
comercial de helicóptero. E eu, do alto de meus incríveis 14 anos, se já era seu fã, me tornei
o cara com o amigo mais especial do mundo. As lembranças dos vôos são
inesquecíveis.
Em 1991 o mesmo helicóptero que nos deu tantas
alegrias levou meu melhor amigo. Um acidente em Parati, uma explosão e apenas a
carteira com sua identificação encontrada intacta, a 1 Km de distância. Acho que
ele soube que iria nos deixar...
Esses dias tenho pensado muito no Marcelo. Acho que
ele se tornou meu anjo da guarda, principalmente em alguns momentos bem
difíceis da vida. Até fisicamente nos tornamos parecidos.
Pensando hoje no que me tornei, vejo que uma grande
parte daquilo que gosto e faço deve-se a ele. Aprendi a tocar
percussão e bateria (ele adorava e tinha todos os instrumentos), sou um
roqueiro de carteirinha que gosta de Julio Iglesias (ele tinha todos os
discos), e acho que aprendi a ter o mesmo jeito que ele tinha, de lidar com as
pessoas que perderam o sorriso no rosto.
Primão, já faz 22 anos. E nesse tempo eu não me
esqueci de você nem um momento sequer. Tenho tentado seguir com esse mesmo sorriso
que você nos deixou nessa foto, seu último registro da vida. Para que ela seja
tão boa e intensa como foi a sua curta passagem por aqui.
Eu nao tive o prazer de conhece-lo, mas por tudo que ouço de todas as pessoas que o conheceram, o admiro... e por incrível que pareça, mesmo assim (nao tendo o conhecido em vida) gosto dele e tenho um carinho grande e verdadeiro, e acho que ele sabe!!!
ResponderExcluirEste texto relata muito bem a admiração e o seu carinho... E tbem a forma simples de como ele colocava alegria em tudo!!!
Tenho certeza que o Céu esta em festa desde que ele lá chegou...
Gde beijo
Dani
Dani, ele era tão especial que nem era preciso conhecê-lo para amá-lo. O Marcelo foi e ainda é meu melhor amigo e, apesar de sentir muito a falta dele, sei que de alguma forma ele nos acompanha todos os dias dessa vida...
ExcluirUm beijão
Marcos Vini! Realmente vc me foge a memória não me lembro de vc, mas o Marcelo foi meu grande amigo e pude reviver e ter boas lembranças do passado com suas palavras, o que me emocionou. Hoje é aniversário dele e que ele esteja nos braços do Pai Maior, com certeza está. Obrigado por ter compartilhado a foto acima, e quem sabe um dia nos encontraremos para falar mais sobre essa pessoa tão especial.
ResponderExcluirAbraço do seu agora amigo, Ligeirinho ( era assim que ele me conhecia ). Sds!
Grande amigo!
ExcluirEu era pequeno, mas me lembro sim de você. Que bom que o post te trouxe lembranças boas. Aliás, com o Marcelo era assim né, não me lembro de nunca ter visto uma cara fechada ou um momento de raiva. Ainda bem que pudemos compartilhar dessa alegria, nem que tenha sido por tão pouco tempo.
Um abraço!
Trabalhei com Marcelo en uma empresa De táxi aéreo, eu tinha 18 anos e me lembro do divertido que era, passávamos rindo dos delírios de grandeza que tinha nosso chefe e fazíamos planos de irmos juntos a Michigan pues ele queria fazer um curso lá.Hoje depois de 30 anos ele veio en minha mente e resolvi buscar alguma informação sobre aquele acidente e me deparo con estes relatos. Fiquei feliz!!
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